Animais: vivendo em Harmonia
Deize Smek Pinto

Neste relato, compartilho a realização de atividades de alfabetização com a turma de 29 alunos do primeiro ano A, do período vespertino, da Escola Municipal Marcos Nicolau Strapassoni, localizada na periferia do município de Campina Grande do Sul/ PR. As práticas aqui relatadas aconteceram ao longo de três semanas do segundo bimestre de 2014 na sala de aula, e depois foram apresentadas à comunidade na Feira de Ciências da escola que aconteceu no mês de agosto do mesmo ano. O tema trabalhado, no contexto da Alfabetização Científica e do eixo estruturante Vida nos Ambientes, foi “Animais: vivendo em harmonia”.

Para isso, foram realizadas leituras de livros de literatura dos acervos do PNAIC e do PNLD; leituras de reportagens de jornais; atividades lúdicas, tais como contação de histórias, jogos e dramatizações; práticas de oralidade, leitura e escrita; debates e discussões; planejamento e execução da apresentação em uma Feira de Ciências. O trabalho, cujo tema central relacionou-se com as Ciências Naturais, foi interdisciplinar, principalmente Língua Portuguesa e Matemática, e teve como objetivo propiciar a cada um dos alunos da turma:

  • identificar a transformação do meio ambiente, a relação entre homem, espaço e natureza;
  • identificar animais domésticos e selvagens, suas características e necessidades;
  • identificar quais animais são nocivos ao homem;
  • conhecer a relação dos animais com seus habitats naturais e os cuidados necessários quando eles passam a conviver conosco no ambiente doméstico;
  • estabelecer a relação de interdependência entre animais e plantas;
  • aprender que podemos - animais, plantas e o homem - viver em harmonia se • preservarmos o meio onde vivemos;
  • compreender a importância da vida animal para o nosso planeta e o significado  de extinção;
  • ampliar o conhecimento e o pensamento crítico sobre a preservação da • natureza;
Fotos: arquivo dos autores

 

Iniciei as atividades pela leitura do livro “os Animais do Mundinho”, de Ingrid biesemeyer bellighausen. Li para as crianças o livro, contando e mostrando as ilustrações desta história em que a autora apresenta, ilustrados como montagens do Tangram, os mamíferos, as aves, os peixes, os répteis e os anfíbios, suas características e habitats. A história mostra que, apesar das diferenças entre os animais – há, por exemplo, os que causam doenças, os que moram nas florestas e os domésticos – todos eles vivem em um único lugar, compartilhado conosco, que é o “mundinho” que devemos cuidar para preservar. Como cada animal era representado por uma montagem, discutimos as características dos animais e como eles eram construídos utilizando as formas geométricas do Tangram.

Depois da leitura, fizemos uma roda de conversa sobre a história. Perguntei se os alunos conheciam um mundinho onde acontecem as coisas contadas no livro. o objetivo foi discutir com eles os tipos e características dos animais, os habitats, nossa convivência com as animais e também quais as possíveis consequências se não cuidarmos do “Mundinho” que é o meio onde vivemos. Sobre a questão da preservação do meio ambiente, eles responderam, quase todos ao mesmo tempo, que se não cuidarmos do mundo ele logo vai acabar. Expliquei que todos nós temos nossos espaços no Planeta Terra, mas que devemos cuidar do mundinho formado por plantas, animais e o homem para que consigamos viver por muito tempo em harmonia. Perguntei para os alunos quem eles achavam ser responsável pela destruição de florestas, pela morte de animais e pela poluição de rios. As crianças, rapidamente, responderam que eram “as pessoas”. Então, como resultado da roda de conversa sobre a história do livro, chegamos à conclusão de que é necessário que todos vivamos em harmonia, não desmatando as florestas, não matando os animais e não poluindo os rios. “Vamos todos fazer isso!”, disseram as crianças.
Fotos: arquivo dos autores

 

Para trabalhar com outra forma de discutir esse tema, propus aos alunos a tarefa de construção de maquetes: uma que mostrasse o meio ambiente rural, uma que mostrasse o meio ambiente urbano e uma que mostrasse a floresta. Separados em dois grupos, as crianças utilizaram isopor, papéis e tintas coloridos, cartolina, cola e tesoura para construírem os elementos naturais que compõem os ambientes criados, tais como árvores, terra, flores, plantações e rios. Como tarefa de casa, pedi que os alunos reunissem e trouxessem na aula seguinte objetos e brinquedos que pudessem ser usados para representarem animais, casas, pessoas, carros e outros elementos para completarem as maquetes. os alunos trouxeram os materiais, concluíram a criação das maquetes e depois conversamos sobre elas e o que representavam. Expliquei as características do meio rural, do meio urbano e da floresta falando sobre a relação de interdependência entre esses ambientes e seus moradores, diferentes tipos de animais, incluindo o homem. Discutimos essa questão, em conjunto, falando sobre o papel e a importância dos animais na natureza. Construímos a diferença entre animais domésticos e animais selvagens e fizemos uma lista com nomes de animais, diferenciando os domésticos dos selvagens. Essa lista foi feita em um cartaz, escrito por mim, a partir daquilo que os alunos sugeriram depois de observarem a construção da maquete e relembrarem a leitura do livro “os Animais do Mundinho”. Trabalhei a escrita dos nomes dos animais em letra caixa-alta, mostrando letra inicial, sílabas e fazendo a leitura das palavras; essa mesma atividade também foi realizada com o alfabeto móvel, para melhor compreensão da leitura e escrita das palavras. Depois, apresentei e entreguei à turma um texto informativo sobre o meio rural e o meio urbano, que eles colaram no caderno junto com perguntas para interpretação que reforçaram a problematização. As respostas coletivas dos alunos foram registradas por mim no quadro e cada um deles também fez o registro individual no caderno, exercitando escrita e leitura.

Na sequência, as atividades foram realizadas na forma de jogos cujo tema foi os animais. os alunos foram responsáveis pela construção do jogo da memória, dominó e quebra-cabeça utilizando pintura, recorte e colagem. Depois, brincaram em grupos com os jogos que montaram, aprendendo um pouco mais sobre as características dos animais.

Fotos: Arquivo dos Autores

No final da aula, fizemos a leitura deleite “As aventuras de um pequeno ratinho na cidade grande”, livro de Simon Prescott baseado na fábula de Esopo “o Rato do Campo e o Rato da Cidade”, que conta  as  peripécias  e  emoções do ratinho do campo que aceita o  convite  de  um  amigo  para visitar a cidade.

Ainda de maneira lúdica, utilizei também a música como recurso de ensino. ouvimos e cantamos “Seu Lobato tinha um sítio”, escrevi a letra da música em papel kraft e aprendemos os nomes de animais que fazem parte do ambiente do sítio. Depois, discutimos como os animais do sítio são importantes para o homem e sua sobrevivência, principalmente para a alimentação, fornecendo leite, ovos e carne. Confeccionamos máscaras dos animais, dramatizamos a música, dançando e cantando.
Fotos: Arquivo dos Autores

Em outro dia, estudamos o tema animais em extinção. Iniciei a aula com a pergunta: “Vocês sabem o que significa um animal estar em extinção?”. ouvi as respostas e propus uma atividade coletiva para a produção de um cartaz feito com recorte e colagem de figuras de animais selvagens retirados de revistas. Mostrei no dicionário o significado da palavra “extinção”. Fazendo observações a respeito do que foi produzido no cartaz e na maquete da floresta, discutimos quais animais estão ameaçados de extinção e por que. Depois, realizamos atividades lúdicas como “Encontre os sete erros”, “Ache o animal extinto no meio de outros”, “Cruzadinha” e “Pinte o desenho”. Produzimos um texto coletivo escrito em cartaz tendo a professora como escriba, explorando o título, autor e espaçamento entre as palavras. No final do texto, cada criança desenhou o animal em extinção que mais gostou. Fizemos a leitura deleite “oLobo Guará”, de Rubens Matuck, cuja história fala desse animal que está ameaçado de extinção.

Outra discussão que aconteceu na turma foi sobre o perigo do contato com animais selvagens. A partir da leitura que fiz de uma reportagem que foi publicada no jornal “Gazeta do Povo”, de Curitiba, debatemos a notícia do menino que teve o braço mutilado depois que foi mordido por um tigre do zoológico de uma cidade no estado do Paraná. Na roda de conversa, os alunos relataram suas opiniões sobre a reportagem, mostrando preocupação com a existência de zoológicos para animais selvagens, com o tratamento desses animais nesse ambiente, com o respeito às regras de segurança quando visitamos o zoológico e com a necessidade de as crianças obedecerem aos pais e às regras para se manterem em segurança e com boa saúde.
Fotos: Arquivo dos Autores

Para tratar da questão do aprisionamento e da domesticação dos animais, trabalhei com a leitura de “o menino e a gaiola”, um livro de Sonia Junqueira, sem texto escrito, apenas com imagens. A proposta foi que os alunos construíssem a história, na oralidade, interpretando as figuras e seu contexto de apresentação. Eles adoraram contar a história a seu modo!

Em seguida, foi a vez do cineminha para assistirmos ao filme “os sem floresta”! Além de nos divertirmos com a história, comparamos personagens e situações com aquilo que vínhamos discutindo nas atividades anteriores. Produzimos um texto coletivo sobre os animais selvagens.

Depois dos trabalhos realizados sobre os animais selvagens, nossa conversa mudou para o debate sobre os animais domesticados, os de estimação. Fizemos uma pesquisa para saber quais eram os animais de estimação das crianças de nossa turma. Eles levaram para casa um questionário a ser respondido junto com a família e a encomenda de um desenho que mostrasse os seus animaizinhos. os alunos apresentaram os resultados da pesquisa expondo os desenhos dos animais de estimação na sala de aula e construindo um gráfico, situações em que foi possível trabalhar conceitos de alfabetização matemática.
Fotos: Arquivo dos Autores

Fotos: Arquivo dos Autores

Cantamos a paródia “Não atire o pau no gato” e discutimos e as atitudes com os animais de estimação: se o certo é bater no gato (como na música original) ou cuidar e dar carinho fazendo dele um amigo (como na paródia). Construímos um texto com a letra da paródia e confeccionamos um minilivro individual explicando os cuidados que se deve ter com os animais de estimação. As crianças realizaram dobraduras de gato e cachorro, fazendo fantoche de vara. Cantamos a música, dramatizamos e brincamos com os colegas da turma. Como registro, as crianças elaboraram produções individuais e coletivas.

Fotos: Arquivo dos Autores

 


Fotos: Arquivo dos Autores

Fizemos uma atividade que as crianças adoraram, usando massinha de modelar. Elas primeiro brincaram livremente com as massinhas e depois modelaram animais aquáticos, tema escolhido para esse trabalho artístico. Colaram em cartaz, nomeando cada animal.

No livro didático de Alfabetização Matemática, realizamos atividades de resolução de problemas cujo tema era a vida animal, trabalhando operações de adição, subtração e multiplicação. Cantamos músicas como “Peixe vivo”, “Caranguejo”, “Se eu fosse um peixinho”. Depois de perguntar para os alunos o que eles sabiam sobre como os peixes se alimentam, respiram e dormem, expliquei como isso acontece e fizemos uma produção de texto coletivo para definir os peixes.

Fotos: Arquivo dos Autores

Retomando tudo o que discutimos até então sobre os animais e a vida nos ambientes, fiz a contação da história bíblica da Arca de Noé. Os alunos vestiram roupas e acessórios para representarem as situações contadas. Trabalhei os conceitos de macho e fêmea, preservação das espécies e características dos animais.
Fotos: Arquivo dos Autores

 

Os alunos produziram frases individuais em tentativa de escrita. Fizemos também a leitura do livro “Números, bichos, animais e flores”, de Cléo busato. Construímos coletivamente, em cartolina, utilizando cola colorida e recortes de papéis coloridos, uma releitura do livro. Depois desse trabalho, os alunos fizeram seus próprios livrinhos, com desenhos individuais. Foram trabalhados conceitos relacionados à contagem dos personagens, aos tipos de seres vivos e à escrita de uma história. As crianças puderam levar para casa os livros que fizeram e ler com a família

Fotos: Arquivo dos Autores

 

O trabalho aqui relatado foi finalizado em uma Feira de Ciências realizada no dia 16 de agosto de 2014 na escola. o tema apresentado pela nossa turma foi “Animais: vivendo em harmonia”. Arrumamos as carteiras da nossa sala em círculo para que cada aluno da turma participasse, apresentando para os visitantes as atividades que foram realizadas. As atividades foram expostas nas paredes e em cima das mesas. De forma bastante participativa e cheia de entusiasmo, os alunos interagiam com os colegas de outras turmas, com os familiares e com a comunidade escolar mostrando seus trabalhos, relatando as atividades realizadas e contando suas experiências. Desta forma, relataram o que aprenderam sobre os animais, sobre o papel do homem na sobrevivência dos seres vivos, sobre a importância de preservação do meio ambiente para que as gerações futuras possam desfrutar e conhecer esse planeta. Disseram que é importante cuidarmos dos animais para que as espécies não entrem em extinção, como aconteceu com os dinossauros, e que não devemos manter os animais em jaulas e zoológicos e sim em seus habitats naturais.

Os alunos trouxeram de casa os seus animais de estimação para apresentarem na feira, mostrando o carinho e o cuidado que têm com eles. Uma das alunas levou um casal de periquitos e uma calopsita, apresentando-os e contando quais são as características desses animais (têm bico, pena, botam ovo...). Explicaram os cuidados devemos ter com os animais de estimação, cuidando de sua alimentação, vacinas e proteção. Na parte dos animais aquáticos, trouxemos uma tilápia em um aquário, que foi a sensação da feira, se sobressaindo dos animais mais conhecidos que lá estavam, como pato, galinha, cachorro, gato e aves. Todos queriam ver e pegar esse peixe! Nossa atividade foi prestigiada com a presença de dois filhotes de cachorro que lá estavam para serem adotados, com a condição de serem cuidados com atenção e carinho. Foi bonito ver o depoimento dos alunos sobre essa situação quando falaram que o cachorro é o melhor amigo do homem, mas, mesmo assim, algumas pessoas o maltratam, não cuidam e até o jogam na rua em abandono. “Se temos um bicho de estimação devemos ter a responsabilidade de o criarmos até ele ficar velho e morrer, como se fosse alguém da nossa família, dar um nome, vacinas. Não podemos maltratar os animais e também não podemos deixá-los jogados nas ruas, pois podem morder alguém”.

Na feira, os alunos expuseram e apresentaram as maquetes que construíram, contando para as pessoas como é importante preservar os diferentes tipos de meio ambiente para que não haja um desequilíbrio da natureza. Falaram dos animais que podem ficar em extinção e apresentaram os textos coletivos, as dobraduras e tangrans dos animais. Nosso painel da Arca de Noé também foi apresentado: os alunos vestiram fantasias de animais representando machos e a fêmeas e contaram um resumo da história.
Fotos: Arquivo dos Autores

 

Fotos: Arquivo dos Autores

 

Estipulamos    que    cada    grupo    de visitação circularia durante 15 minutos para ver os trabalhos dos alunos. Ao final desse tempo, depois  de  terminado  o  circuito,  os alunos  se dirigiam  para  o  centro  da  sala para apresentarem a música “o Sítio do Seu Lobato”, usando  as  máscaras  de  animais que fizeram, cantando e dançando. 

A realização dessas atividades foi uma experiência muito boa para todos nós (eu, os alunos e a escola), pois conseguimos mostrar que desde pequenos podemos aprender sobre preservação do meio ambiente e conscientização a respeito da vida em harmonia com o mundo que nos cerca. Devemos colocar essa aprendizagem em prática para continuarmos vivendo bem em nosso mundinho. Além disso, com esse projeto, mostramos como é possível realizar um trabalho de ensino diferenciado, indo além do quadro e giz. A escola pública pode favorecer aprendizagens mais significativas para nossos alunos. Esse momento foi o primeiro de muitos outros que virão nos próximos anos.

Avaliação dos alunos: As avaliações dos alunos foram feitas pelo acompanhamento da sua participação na oralidade, nas conversas dirigidas, na manifestação de opiniões para a construção dos textos coletivos, nas representações de desenhos, no recorte e colagem para confecção dos cartazes, dobradura, modelagem, na atenção às leituras das obras literárias, na confecção de gráficos e de livrinhos e na tentativa de escrita individual. Observei grandes avanços na aprendizagem dos alunos, bem como o desenvolvimento da autonomia e da autoconfiança. Eles estão mais críticos com os assuntos do cotidiano; cada aluno percebeu que conseguiu aprender e demonstrar esse conhecimento para as pessoas, desenvolvendo maior autonomia. Na Feira de Ciências, alguns alunos fizeram suas apresentações por meio da leitura e outros decoraram suas falas. Todos gostaram de participar e demonstraram, muito espontaneamente, sem constrangimento e falando alto e claro, aquilo que aprenderam ao longo das três semanas de atividades.

 

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