Esse assunto pode parecer não ter relação com os anos inicias de escolaridade, mas saibamos que quando falamos de animais vertebrados ou invertebrados e plantas com flores ou sem flores, estamos nos referindo, em certa medida, aos critérios propostos por Lineu para agrupar e organizar os seres vivos, desde a categoria mais geral, que seria o reino (animal, vegetal...) até a categoria mais básica, que seria a de espécie. E por falar nisso, uma forma de se iniciar trabalhos com classificação dos seres vivos nos anos iniciais é apresentar aos alunos figuras de animais ou plantas que podem ser recortadas de revistas, jornais etc. pedindo-lhes que organizem as figuras estabelecendo seus próprios critérios. Em geral, não veremos nossos alunos agrupando “répteis”, “mamíferos” ou “dicotiledôneas”, mas, provavelmente, critérios baseados na forma, no habitat ou comportamento podem surgir na sala de aula e isso não será muito diferente dos procedimentos que muitos cientistas adotaram ao longo dos anos para classificar os seres vivos. Continuando nossa conversa sobre critérios, você sabia que o termo espécie, assim como muitos outros nas Ciências, tais quais, energia, genes, átomo etc. é um conceito importante, na mesma medida em que não é um conceito bem definido na comunidade científica?
Segundo o biólogo Carl Zimmer (2011), existe uma estimativa de que circulam (ou já foram publicados) pelo menos 26 conceitos diferentes de espécie. A multiplicidade das definições de espécie, contudo, não inviabiliza a produtividade científica, isto é, não impediu ou impede que haja trabalhos revisando, descrevendo e (re)apresentando espécies e novas espécies. os diferentes conceitos de espécies engendram diferentes perspectivas e maneiras de se eleger critérios para tornar um conhecimento científico. Em alguns casos, estes critérios podem ser compatíveis e em outros díspares, sobretudo nos espaços acadêmicos dirigidos à discussão do tema.
Pensar nos critérios utilizados para considerar nossa condição humana na biologia é um bom exemplo para vermos mudanças na ciência, por exemplo: os seres humanos pertencem à espécie Homo sapiens e em outras definições biológicas, nós, seres humanos, somos animais, mamíferos, primatas, da família hominídea e do gênero Homo. Para cada classificação são considerados critérios específicos, por exemplo, por termos glândulas mamárias somos mamíferos; primatas são caracterizados por ter um cérebro relativamente grande, face achatada, privilegiando a visão ao invés do olfato, unhas nas mãos e pés... além de outras características. A família hominídea abriga os maiores primatas e o gênero Homo os que possuem os maiores tamanhos de cérebro, além do bipedismo (capacidade de caminhar de forma permanente sobre os membros posteriores). Nessa perspectiva, podemos dizer todos os seres humanos são biologicamente iguais, mas nem sempre foi assim...
Nas Ciências Naturais, Carlos Lineu se apropriou do termo raça para classificar espécies vegetais, transformando-o posteriormente em categoria taxonômica, que se estendeu ao estudo dos animais (zoologia) e consequentemente aos seres humanos. Neste caso, as classificações de Lineu possuíam viés hierárquico claro e expresso, sobretudo, na forma como eram governados os integrantes de cada raça e em suas características psíquicas ou de “temperamento” (MUNANGA, 2003).