DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!
(Mário Quintana - Espelho Mágico)
O poema de Mário Quintana, utilizado como epígrafe, nos lembra de uma característica muito forte do fazer científico, que é a capacidade de almejar o conhecimento distante, aquele que, por ora, nos parece inatingível. Imaginar, criar, ser curioso... Essas são facetas imprescindíveis para a criação de um espírito científico.
Como vimos em outros textos deste Caderno, a ciência se faz numa contínua revisão das ideias e visões de mundo e, para isso, é necessário haver espaço para as utopias! No documento Elementos Conceituais e Metodológicos para a definição dos Direitos de Aprendizagem (BRASIL, 2012), é indicado que entre os direitos para a área das Ciências da Natureza está o de ampliar a curiosidade das crianças, desenvolver a criatividade e estabelecer relações da ciência com outras formas de linguagem. Neste texto buscaremos trabalhar esses direitos à luz de um tema também inspirado pelo poema de Quintana: “a mágica presença das estrelas”, por meio de considerações a respeito do Sistema Sol e Terra.
É possível trabalhar o eixo Sistema Sol e Terra com as crianças do Ciclo de Alfabetização a partir da leitura de literatura e materiais com base em outras linguagens, aproveitando o potencial poético e simbólico desse tema para transitar com elas por diferentes textos. O Caderno 01 de 2013 do PNAIC Língua Portuguesa apresenta a importância desta forma de trabalhar com diferentes textos para desenvolver capacidades de compreensão e produção de textos orais e escritos.
Cabe aqui uma importante conversa sobre a visão que temos do papel da literatura assim concebida no ensino de Ciências Naturais. Não se trata de utilizar literatura infantil, por exemplo, tendo como foco apenas os conceitos científicos. Esta forma de lidar com os diferentes textos em sala de aula empobrece todo o processo, pois faz uma verdadeira assepsia no texto literário, buscando a ciência e possíveis conceitos científicos apresentados e furtando às crianças o prazer da leitura, na perspectiva trabalhada nos Cadernos de Formação de Professores do PNAIC 2013. Tampouco faz sentido ler poemas, mitos ou textos da tradição oral para mostrar como esses pensamentos estão errados, reforçando a ideia, falsa, de que somente a ciência tece uma narrativa correta a respeito dos fenômenos naturais. Trata-se de oferecer textos diversos para que, a partir dessas leituras, em um movimento de construção de seu papel de leitor diante de diferentes textos, as crianças possam compreender que a ciência tem linguagem e formas próprias de falar sobre esses objetos.