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Tópico I - Pensar a Linguagem: a Grande Dúvida Geográfica

PARTE B

Olá, meu povo!

 

Retorno para dar prosseguimento à segunda parte do tópico Pensar a Linguagem Geográfica. Ao final da primeira parte, fizemos um momento de reflexão e compartilhamento de visões. A intenção não era atingir uma resposta correta ou definitiva dos problemas que apresentamos, mas exercitar o pensamento geográfico por meio da linguagem geográfica, sem se limitar a uma visão uniforme da questão, mas buscando diferentes referenciais de localização e orientação das partes envolvidas.

 

A bacia do rio São Francisco é um fenômeno que tem sua localização numa dada forma regionalizável, assim como a criação dos canais de transposição é outro fenômeno com dada manifestação territorial. Cada fenômeno se territorializa como um lugar e, ao se articularem, redefinem o território conforme a escala da região de interesses em disputa. 

Os interesses, por exemplo, dos empresários locais são facilidades de irrigação e benefícios fiscais para comercializar seus produtos. Os pescadores, de outro lado, almejam não serem prejudicados com a criação de canais que diminuam a quantidade de peixes. Para o Governo Federal, importa estabelecer uma resposta ampla e única para a questão das secas. Enfim, conforme os diversos interesses em conflito, o fenômeno Rio São Francisco e sua transposição se territorializa em diferentes regiões de usos, redefinindo o acontecimento espacial daquele lugar.

Dessa forma, cada fenômeno territorializado delineia diferentes interesses que definem o acontecimento espacial de um lugar. Os referenciais geográficos empregados pelo Estado para produzir essa nova territorialidade se pautam em dados técnicos de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), georreferenciamento e levantamentos precisos de dados. Assim, a partir de um planejamento sistêmico – com a elaboração de mapas, como os de distribuição populacional, de cobertura vegetal, de recuperação da biodiversidade, de padrão do uso da terra, de áreas de conflitos sociais etc. – tem-se o intuito de controlar a dinâmica territorial por meio de políticas e ações técnicas.

 

Em contrapartida, a população ribeirinha do São Francisco elege seus referenciais geográficos a partir de outras questões como, por exemplo, a possibilidade de haver peixe para pescar e a viabilidade de uso dos solos nos períodos de menor vazão do rio, a fim de plantar hortaliças e de ter o acesso direto à água, em vez de ficar na dependência de algum agente distribuidor local. Por fim, o que podemos concluir é que a obra de transposição está reelaborando o território e, sem dúvidas, essa mudança aponta para o surgimento de muitos fenômenos e impactos, cada um com escala territorial específica de manifestação, a partir do desvio das águas do rio.

O importante para nós, professores(as) de geografia, é destacar desse conteúdo os sentidos dinâmico e múltiplo dos fenômenos que são agenciados para explicar a produção do lugar. Mais do que dizer que se é favor ou contra a transposição, é apontar como os diferentes interesses em disputa delineiam diferentes regionalizações para o mesmo lugar, cabendo uma leitura dinâmica e crítica das múltiplas escalas de interesses para se melhor localizar na questão, para buscar respostas mais fundamentadas.

 

A aula de Geografia não deve ficar restrita a reproduzir os conteúdos oficiais sobre um lugar, mas deve exercitar a linguagem geográfica a fim de contribuir para que o(a) aluno(a) possa melhor se orientar frente ao problema, localizando-o no contexto dinâmico das escalas territoriais da espacialidade regional,  brasileira ou mundial.

 

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