Diante do que já foi estudado até aqui, pode surgir uma pergunta muito rotineira para os que criticam a pertinência do estudo de Geografia no Ensino Básico:
Uma justificativa da importância de ensinar esse conjunto de informações é a presença dele nos processos seletivos de todo Brasil. Outra justificativa é o fato de o conteúdo estar presente nos materiais didáticos de Geografia. No entanto, insistir nessas respostas não fundamenta o pensamento sobre a dinâmica espacial dos fenômenos, os quais não se restringem à questão do Rio São Francisco em si.
Para melhor abordar esses questionamentos, sugerimos iniciar analisando questões de vestibulares que abordam os temas relacionados com o rio São Francisco observando o tipo de informação abordada.
Com a leitura, cremos que foi possível notar que o conjunto de questões solicita respostas geralmente no que se refere à extensão do rio; à área da bacia hidrográfica; a quais estados fazem parte da bacia hidrográfica; e ao local de nascente e de desembocadura do rio.
Continuando nossa análise sobre as questões aqui abordadas, sugerimos agora analisar, nas “Orientações Curriculares para o Ensino Médio: ciências humanas e suas tecnologias”, quais são as perspectivas para esse tipo de conhecimento na escola.
Acesse o referido documento, em seu volume 3, página 45, para ver o que está indicado como competências e habilidades que devem ser exercitadas pelos(as) alunos(as) com o ensino de geografia.
Uma das competências é a capacidade de operar com os conceitos básicos da geografia para análise e representação do espaço em suas múltiplas escalas. Para efetivação dessa competência, as atividades solicitadas em sala de aula devem exercitar as seguintes habilidades por parte do(a) aluno(a): articular os conceitos da geografia com a observação, descrição, organização de dados e informações do espaço geográfico considerando as escalas de análise.
Se a justificativa para o estudo da temática da transposição do Rio São Francisco era o fato de ser esta abordada nos vestibulares, cabe destacar que as questões dos vestibulares aqui analisadas não exercitam nenhuma dessas habilidades ou competências, apenas reproduzem informação já dada e deduzem respostas definidas por outros como certa.
Ainda no mesmo documento, na página 46, há uma orientação aos(às) docentes para que pensem autonomamente, ao organizarem seus saberes e ao conduzirem seus trabalhos. É oportuno lembrar que a prática docente adquire qualidade quando existe a produção do saber.
Novamente no tipo de conteúdo solicitado nas questões dos vestibulares analisados, o saber já vem definido por especialistas; portanto, não há autonomia do professor e muito menos uma “produção do saber”, somente reprodução de algo que já foi dado como certo.