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Tópico I - Pensar a Linguagem: a Grande Dúvida Geográfica

O Estado elabora um sistema de referenciais geográficos para poder distribuir suas ações e usos do território, visando os objetivos administrativos de favorecimento econômico e de reivindicações sociais. O Estado, em suas articulações nas esferas municipal, estadual e federal, tende a abordar a base física do território e instaurar processos de produção e uso do espaço. Por meio de politicas públicas e  por conta de interesses econômicos, o Estado aprova loteamentos, abre vias de acesso, providencia infraestrutura de luz e de água, constrói escolas e equipamentos públicos. À medida que o Estado aborda questões relacionadas ao território, tenta estabelecer mudanças que só as pessoas poderão efetivar; a população, então, passa a construir casas, abrir estabelecimentos comerciais, exigir meios de transporte, escolas, postos de saúde etc.

O Estado, por sua vez, elabora o sistema de referência geográfica para território a partir de uma vivência não direta com o lugar, mas interfere em como a vivência direta se dará pela população. Podemos constatar isso se acessarmos, por exemplo, o Plano Plurianual do Governo, com destaque para a articulação escalar no território. Outro exemplo de como o Estado toma frente desse pensamento geográfico para definir a regionalização do território pode ser visto no projeto Nova Luz, presente no blog do Bom Retiro, de 28 de março de 2011.

Nesse processo, regionalizam-se os usos do território, definindo lugares de ações específicas (regiões). Ou seja, é deliberado em que espaço criar infraestrutura, onde investir em vias de acesso, em que lugar estimular moradias, onde priorizar centros comerciais etc.

Proposta de revitalização do Bairro da Luz (São Paulo/SP).

 

Tal regionalização de usos e ações estabelece a forma, a paisagem do lugar, expressando a dinâmica espacial em acordo com as necessidades e interesses das várias escalas de ação do Estado. Observe na figura a proposta do município de São Paulo para revitalizar o Bairro da Luz.

Vejamos que, de forma genérica, esses fenômenos espaciais são lidos diferenciadamente dependendo de quem os lê. O Estado, em nome da eficiência administrativa, ao invés de se colocar frente à diversidade territorial, opta por uma uniformização do gerenciamento territorial, o que acarreta uma solução em acordo com os referenciais econômicos e um aumento da tensão espacial. A forma como o Estado “geografiza” a ação no lugar visa padronizar os fenômenos. Contudo, o território, do ponto de vista geográfico, não é algo uniforme. Por exemplo: o que para as crianças é considerado um local de jogar bola entre a tarde e o pôr-do-sol, para o Estado é apenas um lote.

 

O espaço das relações humanas é complexo e diverso, e resulta de múltiplas histórias que se conflitam e se desdobram no acontecer espacial da vida. Pensar geograficamente é sempre se abrir para essa diversidade do mundo, é se abrir para o lugar. Esse vetor espacial, muitas vezes, confronta os interesses dos moradores do bairro com os dos especuladores imobiliários, dos proprietários dos meios de transporte etc.

 

Um mesmo lugar se apresenta com diferentes regionalizações conforme os interesses que ali se efetivam, expressando-se em formas paisagísticas que apontam diferentes dinâmicas espaciais, ou seja, um mesmo fenômeno espacial, um mesmo lugar, é significado de forma diferente conforme os interesses e as ações.

 

 


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