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Tópico I - Pensar a Linguagem: a Grande Dúvida Geográfica

Como exercitar a linguagem geográfica na direção de se pensar a ordem espacial atual para além do desejo oficial de uniformização?

É o conflito entre o discurso institucional, que se diz único (geografia maior), por ser elaborado por ''um conjunto de sábios'', frente ao pensar geograficamente a partir de “nossas necessidades de sobrevivência” cotidiana (geografias menores). Diante dessa situação, muitos podem questionar: Afinal, que Geografia devemos ensinar?

A partir desse questionamento, cabe informar que chegamos a um momento crucial de nosso curso: a formulação da hipótese de que não é preciso optar por uma geografia ou outra.

Vivemos e construímos a sociedade atual, e o Estado-Nação é fundamental na articulação da lógica territorial por nós instaurada. A geografia oficial atende a uma lógica de leitura; dessa forma, temos que abordar esse referencial. Contudo, é nosso dever ampliar o pensar sobre essa lógica e não apenas reproduzi-la. Para tanto, torna-se necessário trabalharmos um pouco mais sobre os elementos constituidores da linguagem geográfica.

Voltemos ao texto de Santos:

Para Douglas Santos (2007), "a geografia é o conjunto de topônimos (nomes dos lugares) de uma comunidade, indica o sistema de referência geográfica por ela construída, isto é, o aspecto territorial tanto de suas memórias, quanto das atividades executadas no presente."

 

 

Para deixar mais clara essa questão, pensemos no cotidiano de uma comunidade de crianças que moram em um bairro qualquer. No dia a dia de suas relações, elas desenvolvem referenciais espaciais a partir do que ali está territorializado como um conjunto de nomes de lugares, o qual “indica o sistema de referência geográfica construído por uma comunidade” (SANTOS, 2007). Nesse caso, é na cozinha que se almoça e janta quando a mãe colocar a mesa. 

Ao discutirmos sobre “espacialidade”, faz-se necessário entrarmos ainda mais no mundo escolar, bem como no mundo da criança. A partir disso, podemos dar algumas demonstrações a fim de pensarmos um pouco mais acerca de “localização”. Por exemplo, é denominado “escola” o local onde as crianças e os jovens estudam, e é classificado “rua da escola” o caminho que dá acesso a ela. Crianças e adolescentes sabem que, dentro de casa, mesmo resistindo, deve-se obedecer aos horários e às divisões de atividades em cada lugar. As brincadeiras, muitas vezes, são limitadas à rua em frente à casa e, quem sabe, ao terreno baldio ao lado.

Ao ler os exemplos acima, fica mais fácil visualizar e compreender a afirmação de Douglas Santos quando pontua que “sistema de referência geográfica [...] é, o aspecto territorial tanto de suas memórias, quanto das atividades executadas.” (SANTOS, 2007)


As crianças (bem como todo ser humano) empregam um sistema referencial para dividirem o tempo e o território, denominando os locais e os períodos que cada atividade acontece. Esse sistema permite a essas crianças localizarem-se e orientarem-se no cotidiano espacial de suas vidas. Desse modo, as crianças “executam atividades” e, ao fazerem isso, criam suas “memórias espaciais”.

Tal sistema é o que todos nós fazemos no acontecer espacial da vida. Um sistema de referência geográfica é justamente essa capacidade de denominar e identificar os locais em conformidade com as ações ali exequíveis em determinados momentos e condições dadas.

O sentido geográfico não está dado no lugar, mas é elaborado a partir de como as pessoas vivenciam espacialmente aquele conjunto de fenômenos locais.

Assim, território passou a ser pensado em suas partes e usos (as regiões), que definem a dinâmica espacial da vida que ali se dava de determinada forma.


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