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Tópico II - Derivas Minoritárias da Geografia Maior

Conhecendo o Site de Americana - SP

Cursista, se você acessar ao Google e procurar por "Americana, SP", na tela de resultados, um dos  primeiros endereços apresentados é o do site da prefeitura de Americana, vamos explorá-lo?

Captura de tela que apresenta os resultados para a busca por "americana-sp"

 

Na coluna à esquerda da página, no item "conheça Americana", clique em "perfil do município".

Captura de tela que apresenta a página inicial do site da prefeitura de Americana, na qual destacamos o link "perfil do município"

 

Ao entrar nessa página, você terá acesso a uma série de dados generalizantes sobre Americana: os municípios fronteiriços, as vias de acesso, as distâncias das cidades ao redor, a extensão territorial do município, o clima, as características do relevo, a localização. Esses dados e informações estão errados? Logicamente, não! Mas a quem realmente importa saber essas informações? Quem precisa ter esses dados é, basicamente, o Estado; no caso, aqui, a administração municipal.

Captura de tela que apresenta a página "perfil do município" do site da prefeitura de Americana

 

A geografia maior, portanto, é esse olhar do Estado sobre o território, são dados fixos e específicos que servem para facilitar o controle e a ação dos aparelhos estatais sobre o lugar. A partir dessa maneira de pensar o território da cidade, a imagem espacial do lugar se consolida em uma representação generalizante. Voltemos ao "perfil do município", logo abaixo da tabela que contém a distância em quilômetros entre Americana e outras dez cidades, encontramos uma série de mapas, clique sobre eles.

Captura de tela que apresenta a página "perfil do município" do site da prefeitura de Americana, na qual destacamos a sequência de mapas em escala decrescente

 

Vemos uma série de mapas em uma sequência de escalas matemáticas fixas decrescentes, do mapa do Brasil até a forma cartográfica do município de Americana.

Captura de tela que apresenta a sequência de mapas em escala decrescente (Fonte: Prefeitura de Americana, 2015)

 

A geografia maior simplesmente soma a essa representação cartográfica os dados sobre população, economia, extensão, localização, distância entre cidades para dar uma forma imagética a isso tudo.

Americana, SP

 

Americana, dessa forma, atende aos pré-requisitos oficiais para ser identificada como uma cidade que, como qualquer outra cidade de seu porte, terá os elementos fixadores do sentido de lugar para serem aprendidos e reproduzidos pelos alunos nas aulas de Geografia. Acontece que Americana, enquanto lugar, é muito mais complexa e dinâmica do que esses dados e imagens oficiais conseguem delimitar, e isso os alunos vivenciam e trazem para dentro da escola. Mas, antes de adentrar nessa discussão, insistimos que, na Geografia, esse é o processo majoritário de se trabalhar imagens e representações de toda e qualquer porção do território. Basta observarmos como exercitamos, em nossas aulas, a consolidação das formas e das características das regiões do Brasil,  ou de qualquer outro país ou continente, como a África, por exemplo.

 

Como podemos trabalhar esses dados e representações sem que fiquemos restritos à mera reprodução de imagens e de dados generalizantes?

 

Quando procuramos responder a essa pergunta, começamos a entrar nas derivas minoritárias da geografia maior, mas vamos por partes. Voltemos à página oficial da prefeitura da cidade de Americana.

Captura de tela que apresenta a página "perfil do município" do site da prefeitura de Americana

 

Após verificarmos os dados sobre a composição étnica da cidade, temos ainda uma série de links a serem explorados, eles redirecionam para outros aspectos do perfil oficial do município. Clique sobre "hidrografia". Você poderá perceber que o mapa hidrográfico da cidade é fixo, apenas representa a distribuição dos fenômenos num plano. O reflexo desse tipo de representação na aula de Geografia, comumente, resulta e, exercícios de memorização em que as informações privilegiadas sejam os nomes dos principais rios e da bacia hidrográfica a que pertencem, a área ocupada por essa bacia, sua localização etc.

 

Mas como isso permite pensar a dinâmica geográfica do território?

 

Com certeza, muito pouco. Quando o(a) professor(a) de Geografia entra em contato com esses dados, não pode negá-los, mas deve buscar exercitar o pensar geográfico para outros sentidos espaciais que daí derivam. Olhemos mais uma vez o mapa hidrográfico de Americana.

Captura de tela do mapa hidrográfico do município de Americana, disponível no site oficial da prefeitura (Fonte: Prefeitura de Americana, 2015)

 

Observem a distribuição dos principais rios, onde eles se concentram?

Estão ao norte do município, isso pressupõe que as terras mais elevadas ficam ao sul, justamente onde a cidade cresceu. Com essas considerações, já estamos colocando essa imagem fixa em movimento. Vejam também que, justamente cortando a cidade ao meio, no sentido sul-norte, destaca-se o ribeirão Quilombo. Por cortar um núcleo de grande concentração urbana, podemos deduzir que ele deve ser poluído, pois nossas experiências com outros rios assim nos permitem inferir.

Mapa hidrográfico do município de Americana, no qual destacamos os principais rios (Fonte: Prefeitura de Americana, 2015)

 

Podemos deduzir também que com as chuvas e a impermeabilização do solo da região que esse rio percorre, devem ocorrer enchentes nas áreas mais baixas e menos assistidas pelos serviços públicos.

 

Portanto, ao olharmos o mapa, podemos colocar em deriva os dados ali fixados. Para observar a distribuição dos fenômenos representados, temos que sair da representação cartográfica fixa e geografizá-la: buscar outras imagens e experiências espaciais, compará-las e, assim, melhor analisar o que ali está representado.

 

Nesse momento, o sentido geográfico do fenômeno se efetiva, o ribeirão deixa de ser apenas um nome, com números que o delimitam em sua extensão e volume, ele passa a ser uma forma imanente às condições sociais que o produziram. Sua paisagem é a região dos processos de ocupação e de produção do território que o afetam e fazem com que ele interfira no contexto social, ou seja, ele é canalizado, poluído e redefinido territorialmente; por esse motivo, o ribeirão reterritorializa o lugar ao provocar inundações nos períodos de chuva e, com isso, distribuir mau cheiro e doenças para a população, por exemplo.

 

Ao tentarmos ler a dinâmica espacial do fenômeno, vamos estabelecendo outras imagens para o lugar. Essas imagens tensionam e provocam rasuras na concepção espacial da geografia maior, como o site da cidade de Americana apresenta, e passamos, assim, a caminhar na direção das geografias menores.


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