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Tópico II - Derivas Minoritárias da Geografia Maior

Nesse sentido, Gallo (2013), a partir dos pensadores franceses, aponta a necessidade de se instaurar linhas de fuga e de permitir que a educação aconteça em seu devir-menor no contexto da escola hoje.

O aparelho de Estado tenta estratificar, padronizar e controlar todo o processo educacional, definindo como pensar e fazer ciência e as normas corretas de falar e se comunicar, por exemplo. No entanto, o cotidiano escolar provoca tensões, instaura, no contexto dessas forças maiores, o devir-menor do pensamento fluido, nômade, fugidio e não passível de controle. Quando os(as) alunos(as), por exemplo, adentram a escola, a tensão se instaura, pois eles(as) resistem a obedecer, subvertem a disciplina, criam linhas de fuga.

Essa forma da educação maior na escola – punir e reprimir para disciplinar os corpos e as mentes – acaba sendo o processo mais contundente da ação educacional. E isso ocorre desde os primeiros anos escolares até o ensino superior. O  objetivo educacional, nessa perspectiva, é fazer com que os(as) alunos(as) incorporem as regras e as normas para saberem se orientar no contexto de uma sociedade que almeja o controle.

Aí cabe a pergunta de Foucault em relação ao ideal de homem moderno projetado por Kant: que maioridade é essa, trata-se de uma conformação a certos padrões sociais? Onde está a autonomia  afirmada por Kant?

A geografia que se efetiva a partir desse processo educacional é a de alunos(as) que não conseguem se localizar para além dos limites da territorialidade já dada como única para eles. Mas a dinâmica espacial é muito mais complexa que esse ideal de controle da educação maior. Façamos uso de um exemplo, baseado em fatos reais, para melhor clarear esse sentido geográfico decorrente de uma educação maior.

Qual a reação da escola? 


 

 

Vamos concentrar-nos em um fato ocorrido no Ensino Superior, mas os processos nele passíveis de observação estão presentes em todos os níveis de ensino: numa faculdade, num lugar não tão distante, um grupo de alunos mais carentes não conseguiam moradia para poder estudar; a administração da faculdade, orgulhosa da eficiência produtiva de sua instituição, não gostava de que todo ano os(as) alunos(as) reclamassem sobre o problema da moradia.

Os(As) alunos(as) eram de vários cursos, muitos(as) de licenciatura. Um dia, cansados(as), reuniram-se e decidiram ocupar a diretoria. Decorrido algum tempo, o diretor e muitos(as) professores(as) e funcionários(as), cansados(as) de ver sua instituição ser bagunçada com colchões espalhados pelo chão, roupas dependuradas no corredor, reuniram-se e decidiram restabelecer a ordem. Chamaram a polícia, que retirou os(as) alunos(as). Estes(as) foram processados para “aprenderem a se comportar”. A disciplina foi restabelecida. A maioria aplaudiu o acerto da decisão da administração.

Esse fato, que expressa uma situação extrema de como o processo educacional utiliza forças repressoras para manter a ordem e a disciplina, deu-se numa instituição de Ensino Superior. Porém, pense em situações disciplinadoras nos lugares em que atua! Isso não se repete de alguma forma?

Todos(as) já vivenciamos ações não tão politizadas dos(as) alunos(as), mas que incomodaram por instaurarem linhas de fuga em relação à ordem, à eficiência disciplinar e aos resultados produtivos da escola. Não necessariamente as ações indisciplinares dos(as) alunos(as) são corretas e justas, mas elas apontam para o devir-minoritário que rasura a ordem maior estabelecida. Elas apontam que há problemas mais sérios na escola do que a dificuldade de se inovar para tornar mais eficiente a reprodução do conhecimento. Não seria mais criativo, ao invés de apelar para o cômodo modelo de reprimir – fazer calar, mandar para a diretoria, impor suspensão, chamar a polícia – para continuar com o programa disciplinador dos corpos e das mentes,  buscar criar novos caminhos de relações educacionais?


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