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Tópico VI - Brasil Mundo: Outros Sentidos de Espaço-Lugar

PARTE B

 

Olá, começaremos essa segunda parte do tópico Brasil Mundo: Outros Sentidos de Espaço-Lugar abordando a singularidade do lugar Brasil.

Após as leituras e atividades exercitando outro modo de pensar o sentido de espaço/lugar, vamos aqui experimentar alguns olhares visando desconstruir o sentido já dado de identidade territorial brasileira estipulada pela linguagem científica maior da geografia. Vamos começar abordando o sentido de fronteira como forma de ampliar a leitura desse lugar e ir além do que o pensamento maior tenta uniformizar do entendimento do que somos nós.

Como é usual de nossa prática, para provocar essas rasuras menores no sentido maior, iremos agenciar linguagens artísticas para provocar novas imagens espaciais para o nosso discurso científico. Comecemos então com o texto Imagens da fronteira nas mídias eletrônicas.


Vimos que no artigo as autoras trabalham com imagens fotográficas elaboradas pelas mídias na região de fronteira entre o Brasil e o Paraguai:

“[...] nos propusemos a desenvolver uma pesquisa que tem como principal objetivo identificar e analisar as concepções de e sobre a  fronteira Brasil-Paraguai construídas a partir das imagens fotográficas veiculadas pelas mídias eletrônicas.” (SECCATTO; NUNES, 2013, p. 1)

Elas almejam exemplificar como a mídia auxilia na fixação da imagem de fronteira como separação e estranhamento, mas essas mesmas imagens podem potencializar outras leituras e encontros. Também  objetivam “[...] refletir sobre  os limites e as possibilidades das concepções de fronteira construídas a partir dessas imagens no âmbito da Geografia escolar.” (SECCATTO; NUNES, 2013, p. 1)

As autoras começam citando Silveira (2007) e comentando a imagem usual que se tem das áreas fronteiriças do Brasil.

De acordo com Silveira  (2007 apud SECCATTO; NUNES, 2013, p. 3),  “[...] o cotidiano das fronteiras internacionais do Brasil são atrelados a um imaginário de situações recorrentes e articulados pela ausência de estado, caos e violência”. As autoras comentam: “A partir desses estereótipos, são construídos e manifestados vários fatores de alteridade, etnocentrismo, discriminação e inferiorização em relação às  regiões fronteiriças,  estabelecendo  laços  de  conflitos  e  resistência  na  busca  de  autoidentificação étnica ou nacional.” (SECCATTO; NUNES, 2013, p. 3).


Tal observação se comprova quando as autoras analisam as imagens trabalhadas pelas mídias eletrônicas na fronteira entre Brasil e Paraguai. Elas constatam que as

“[...] imagens  fotográficas  das  mídias  eletrônicas  podem  estar construindo  identidades  e olhares  estereotipados  e  preconceituosos acerca  da  fronteira,  já  que  geralmente  essas regiões são apresentadas pela mídia como áreas de conflitos, de assassinatos ou de lugar de passagem do comércio ilegal.” (SECCATTO; NUNES, 2013, p. 6-7)

É certo que nas regiões fronteiriças ocorre comércio ilegal, assim como o encontro com os diferentes provoca muitas tensões e violência; contudo, a fronteira não é só isso, assim como a violência e o comércio ilegal não se restringem a esse lugar.

O comércio que passa pela fronteira, ilegal ou não, efetiva-se em muitos outros locais no interior do Brasil; portanto, o lugar fronteira se articula com outros lugares por meio da dinâmica escalar dos fenômenos que ali se territorializam.

A questão destacada pelas autoras é que a mídia tende a fixar uma imagem, eliminando a dinâmica e a complexidade de elementos que envolvem a vida em tal lugar. Diante dessa tentativa de uniformizar e fixar de maneira genérica o lugar fronteira, cabe à escola exercitar novos olhares e pensamentos sobre esse assunto.

“Aí se faz necessário o papel de fundamental importância do professor de preparar os alunos para que eles, de forma crítica, interpretem  as diversas linguagens imagéticas veiculadas por esses meios de comunicação [...].” (SECCATTO; NUNES, 2013, p. 7)

Através da comparação entre algumas imagens trabalhadas pela mídia com as imagens do fotógrafo Ernesto Franco, as autoras propõem um exercício de análise imagética passível de ser feita na escola no sentido de contextualizar e criticar a visão uniforme perpassada de fronteira pela mídia.

 

Na fronteira, portanto, não existe só a separação e o isolamento dos estranhos, ocorre também o encontro dos diferentes, fazendo com que a forma espacial dos fenômenos tome outros sentidos identitários naquela territorialidade.


A fronteira é esse entre-lugar que se articula com o conjunto territorial brasileiro, resistindo às tentativas de uniformização dos discursos do Estado e da ciência maior. Esses pensamentos arbóreos sofrem rasuras e rizomaticamente estabelecem linhas de fuga a qualquer ideia de padronizar a identidade ali em construção e diferenciação
.

Imagens fronteiriças comumente divulgadas pela mídia


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