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Tópico VI - Brasil Mundo: Outros Sentidos de Espaço-Lugar

A ardósia de Valongo no século XIX não era algo interno ao lugar, era, na verdade, a forma espacial de um fenômeno que ia muito além das fronteiras oficiais do município. Essa forma agenciava o capital inglês, as escolas nos EUA, os mineiros oriundos de vários lugares de Portugal e Espanha, os trabalhadores nos navios de comércio e ferrovias que transportavam a ardósia etc.

 

O lugar era, assim, uma multiplicidade de fenômenos, com suas diferentes temporalidades, que ali aconteciam na forma espacial da ardósia. Se acrescentarmos a essas temporalidades o fato de que os desenvolvimentos tecnológicos propiciaram a elaboração de lousas e materiais escolares mais baratos e flexíveis, como a lousa sintética, cadernos de papel, caneta e lápis para escrita, e, com isso, provocaram uma redução no uso da ardósia em nível global, percebemos que houve uma mudança, que se expressou no lugar, de forma singular, na forma espacial do fenômeno. Por exemplo, a saída do capital inglês, que se retirou da exploração vendendo as minas para ricos mineradores locais.

  

 

Essas histórias não estão apresentadas no vídeo sobre Valongo que aqui acessamos, mas elas se desdobram até a atualidade do local e apontam para devires múltiplos que não temos como controlar. Assim como a história dos amores do passado marcaram a trajetória do lugar vivenciado pelo autor do vídeo, todas essas histórias de mineiros que trabalharam e morreram em Valongo, assim como a de seus filhos e descendentes, são pontos de fuga em relação à tentativa de fixar o sentido de identidade do lugar como algo em separado da dinâmica espacial dos diversos fenômenos que ali aconteceram e acontecem.

Vejamos outra temporalidade que acontece nesse local. Acessem ao vídeo sobre o Parque Paleozoico de Valongo. Nesse parque, verificamos a duração de outras temporalidades, que acontecem nessa espacialidade.

 

A partir do vídeo, podemos perceber que Valongo não é algo acabado, é processo em constante transformação. O que hoje se entende como a superfície fixa do lugar na verdade foi gestado em outra parte do globo, abaixo do fundo do mar. Atendo-nos à movimentação das rochas, por exemplo, esta não parou, continua a acontecer, só que em um ritmo temporal diferente do que estamos acostumados a perceber.

Como as rochas, as plantas e os animais também estão a se locomover, modificar e criar outras possibilidades de sobrevivência nessa dinâmica espacial que atualmente chamamos de Valongo, as ardósias de Valongo são o maior exemplo de que as próprias rochas expressam outros mecanismos de sobrevivência em acordo com as condições dos diversos fenômenos que as afetam.

Elas carregam em si as marcas dessas lutas pela vida, os fósseis de plantas e animais que, há milhões de anos, morreram e estão incrustados na forma atual como a espacialidade da vida ali acontece. Valongo é o agenciamento dessas muitas histórias que acontecem em sua forma espacial enquanto multiplicidade de tempos, pessoas, animais, plantas e rochas, que coetaneamente se tensionam, agenciam-se, afirmam-se como vida.

Não são as ardósias, as relações humanas, os animais e as plantas que estão sobre o lugar Valongo, mas esses múltiplos fenômenos, com suas várias temporalidades que acontecem na forma espacial como lugar.

Valongo é o mundo em seu processo de criação e mudança, de orientação e localização da vida. Não há como buscar uma identidade acabada nos limites fixos do que a geografia maior define como Valongo, pois as linhas de fuga dessas múltiplas histórias instauram rupturas rizomáticas na espacialidade.

 

Para Refletir: Entrevistando uma Rocha

Pense numa atividade com seus(suas) alunos(as) na qual eles teriam de entrevistar uma rocha local.

A rocha deve ser um mineral recorrente na região, pode ter importância econômica ou apenas estar muito presente na composição dos solos.

A entrevista deve focar a temporalidade da rocha, desde sua formação, seu deslocamento no planeta até chegar ao lugar em que se localiza. A partir do que a rocha contar, deve-se resgatar outras histórias para se entender o lugar de sua localização a partir do fenômeno rocha.

Como ela foi usada no passado durante a ocupação da região em que está localizada e como é atualmente?

Quais histórias pessoais de grupos sociais podem ser resgatadas para se ter um sentido mais múltiplo do lugar em que suas vidas acontecem?

Qual a dinâmica espacial que transcende o sentido fixo e fechado do lugar, fazendo dele o acontecimento do mundo, num processo de transformação e diferenciação, e não de isolamento e uniformização de identidades entendidas como acabadas?

A rocha, ao contar sua história, agencia as histórias de outros fenômenos que a afetaram e que agenciou na instauração do sentido aberto e dinâmico de lugar.

Guarde as entrevistas, pois as retomaremos a seguir, bom trabalho!


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