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Tópico V - Territórios da Mídia: Construindo Informação e Imagens Espaciais

 

 

Enquanto a prática política for a de delegar poder a alguém para resolver todos os problemas, com certeza a frustração sempre voltará, e a democracia será a da barganha e do poder econômico. Conviver com a diferença exige muito esforço, mas tentar calar essa diferença não é uma solução, apenas um lenitivo temporário. É preciso permitir a participação de todos na construção de uma espacialidade mais justa.

O crime, organizado ou não, é uma das respostas dos secularmente excluídos e que estão buscando seus meios de se fazerem visíveis para os que negam sua participação no processo de produção da espacialidade brasileira.

É possível perceber que, com as melhorias econômicas, as camadas sociais que estão sendo beneficiadas por esse processo passam a reivindicar, das mais diversas formas, visibilidade e efetiva incorporação à dinâmica espacial do que entendemos por "Brasil". Essa luta por espaço e reconhecimento é, na verdade, uma forma de insurgência contra a ordem que oprime, pois a violência no Brasil não é só a que vem da periferia e ameaça uma parcela de moradores dos centros urbanos, é também a discriminação sofrida pelo morador de periferia. Ainda, é aquela secularmente perpetrada por membros das elites rurais contra os indígenas e contra as lideranças de movimentos sociais do campo e aquela praticada pelos homens brancos e héteros contra homossexuais, negros e mulheres.

 

Insistir em não querer ver essas interações é concordar em perpetuar uma falsa ideia de Brasil: a do Brasil de poucos. Assim, ao não se ler a dinâmica espacial desse processo, delimita-se o problema à questão da incompetência e da corrupção, termos vagos e genéricos, mas que não fundamentam as outras diversas questões temporais que se territorializam na atual dinâmica social. Não existe uma solução definitiva, mas, ao ampliar-se os questionamentos para cada problema, deve-se fazê-lo a partir da interação escalar dos fenômenos em suas particularidades locais.

Para isso ser possível, no entanto, todos devem participar do debate e assumir uma postura ativa na direção de um meio social mais justo, e isso pode incomodar os que preferem idealizar uma solução uniforme e autoritária, a que delega o poder resolutivo para uma única pessoa. Nesse momento, o papel da escola é fundamental, não para encontrar a solução dos problemas em si, mas para exercitar a prática democrática, de participação de todos na construção coletiva do lugar. Isso nada mais é do que territorializar, na escola, os objetivos presentes na Constituição, na Lei de Diretrizes e Bases e nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

A demanda pelo direito à participação na construção da espacialidade brasileira possui diferentes faces

Fonte: Alves (2012); Oliveira (2013); Queirós (2004); Redação RBA (2013).

É preciso sempre lembrar-se dos objetivos a que devemos visar enquanto professores:

" - compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;

 - posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;" (BRASIL, 1998, p. 7)

Efetivar isso é a grande função do espaço escolar. Dessa forma, a análise crítica de como as informações são processadas pela grande mídia precisa ser exercitada, assim como deve ser incentivada a busca de informações em outros meios comunicativos das novas mídias. A potência das novas mídias presentes na internet é exatamente essa capacidade de envolver no processo de comunicação a grande parcela da população que não detém os meios produção da grande mídia. A comunicação na rede de computadores é uma linha de fuga em relação aos limites colocados pela grande mídia, pela grande política.

Saber abordar essa potência para que os alunos não se restrinjam a respostas generalizantes e simplistas, que uniformizam os problemas e suas causas, fazendo com que reproduzam as ideias vazias de soluções definitivas, é o papel fundamental da escola no trabalho com as processos de produção e divulgação de informações. Para melhor entender essa questão, vamos voltar à entrevista com o pesquisador em comunicação social Mauro Wilton de Sousa e destacar aqui o seu entendimento de "grande mídia", a qual é por ele compreendida como uma  máquina uniformizadora de opiniões, de ideias e de valores.

"A diferença acaba não aparecendo na mídia, há muito mais uma tentativa de uniformização de um falso país, de uma falsa única cultura, de uma falsa única identidade, do que propriamente de mostrar que a nossa identidade é a diferença." (SOUSA, 2003, p. 127)

Ao assim delimitar um sentido uniforme de país, a grande mídia não consegue dar conta da múltiplas dinâmicas espaciais que ocorrem no espaço da vida. Nesse aspecto, as novas mídias dos espaços virtuais da internet conseguem informar com maior dinamismo, pois ampliaram a interatividade nos meios de produção dessa informação quando permitiram uma maior participação de seus usuários.

Mas o que devemos fazer?

 

“O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas.” (JABOR, 2006)

Nesse momento, o autor, ou quem divulga essa falsa entrevista, está dizendo quem é o verdadeiro culpado. A solução, portanto, fica implícita. É lógico que o Brasil continua a ter inúmeros problemas, mas a solução não pode se restringir a uma simplificação generalizante de apenas mudar um governante, como se existisse apenas um responsável pelas mazelas sociais, e, portanto, haverá um herói, salvador da pátria que a todos redimirá. Uma visão geográfica deve trabalhar com as múltiplas escalas dos diversos fenômenos, e somente com a participação de todos, com o envolvimento de todos, as respostas serão construídas. O erro é deixar que uns poucos (a grande mídia) falem e pensem por todos, e que esses poucos definam quem é o herói e quem é o vilão.

O autor, fazendo uso desse recurso midiático, passa uma ideia de causa e efeito. Causa: incompetência. Efeito: violência.

A entrevista, por meio de técnicas de edição e montagem de textos e de imagens, foca o problema na direção do olhar que uma parcela da população consumidora brasileira deseja: a idealização de ordem e de controle territorial por ação de um herói, que salvará as pessoas de bem das não desejadas.


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