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Tópico V - Territórios da Mídia: Construindo Informação e Imagens Espaciais

PARTE B

 

 

Após a análise proposta na atividade anterior, seguimos para a segunda parte do tópico Territórios da Mídia: Construindo Informação e Imagens Espaciais.

 

Comecemos com a capa de revista selecionada para análise.

A capa é uma farsa que visa fazer referência à postura da revista frente ao governo federal e busca apresentar como se fosse um fato verídico determinadas informações. Em seu site oficial, a revista comentou a farsa, indicando como prova o fato de alguns elementos estarem errados, como: a cifra de dólar, o conjunto de pequenas manchetes que apontam a falsidade das informações ("Satisfação com saúde pública de 90%, Fundação Lulla").

Exemplos como esse multiplicam-se na rede de computadores, na qual se plantam muitas reportagens falsas, que são divulgadas como verdades. Agora, vejamos um dos blogs que reproduziu a entrevista que o líder do PCC deu ao jornal O Globo.

O interessante é que essa entrevista nunca existiu. O próprio autor diz que ficou surpreso com a divulgação de tal matéria. Veja alguns comentários sobre essa entrevista em A falsa entrevista de Marcola e o cuidado que se deve ter com a internet (2006), de Francisco Cunha.

Analisando o processo de montagem da referida reportagem, fica evidente tratar-se de obra de ficção. Por exemplo, a trama dos argumentos leva a uma tensão dramática que visa o leitor se identificar com o torpor e a perda de controle do repórter. Contudo, nenhum profissional gabaritado a trabalhar numa empresa como O Globo perderia o controle frente às respostas de um entrevistado, ficando a balbuciar as perguntas iniciadas com “mas…”.

"— Mas... a solução seria...

[...]

— Mas... não haveria solução?" (JABOR, 2006)

Capa de revista, objeto de análise da atividade sugerida

O que mais é preocupante, contudo, no arranjo de argumentos do suposto líder do PCC, é o fato de ele se colocar como um intelectual.

 

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"Somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto.... Leio Dante na prisão…" (JABOR, 2006)

Ao assim proceder, ele fundamenta seus argumentos e justifica seus atos devido ao caos que o Estado instaurou na sociedade. Isso é o que mais assusta uma suposta classe média esclarecida. A fala do personagem Marcola vai ao encontro dos temores insistentemente divulgados pela grande mídia: violência desenfreada, corrupção política, inoperância do Estado, incompetência governamental. O artigo reproduz a visão espacial do território brasileiro articulada pela grande mídia, ou seja, o Brasil é o que se encontra majoritariamente no contexto das duas maiores metrópoles.

"Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo?" (JABOR, 2006)

Não há diferenças escalares, a violência que nesses lugares ocorre é uniformizada no todo espacial do Brasil.

 

 

Ou seja, o que é vivenciado por grande parcela da população nos dois principais centros urbanos é colocado como algo inerente à totalidade do Brasil, e, como tal aspecto afeta a totalidade do país, para a mídia, não há como solucionar essa violência, pelo menos enquanto a forma de administrar o território não for modificada.

Perante um quadro como esse, a necessidade de um governo autoritário e policialesco que imponha a ordem e a disciplina vai se delineando como a solução.

Mas, quase no final da suposta entrevista, o repórter pergunta ao líder do crime o que os bons cidadãos devem fazer, e recebe como resposta a fonte da culpa desse caos.

“Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a 'normalidade'. Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco… na moral… Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês… não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela... não há solução.” (JABOR, 2006)

 


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