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Tópico V - Territórios da Mídia: Construindo Informação e Imagens Espaciais

Para deixar mais clara esse processo de edição e delimitação de informações, vamos analisar o caso das manifestações que ocorreram no Brasil em junho de 2013, por exemplo, é possível perceber que o movimento, que se iniciou como um protesto contra o aumento da tarifa de transporte, desdobrou-se em uma série de críticas às profundas desigualdades e injustiças no país.

A mídia tentou classificar as manifestações como ordeiras, as capazes de veicular uma mensagem contra a corrupção ou de crítica ao governo federal, ou como baderneiras, as que não conseguiam direcionar os signos de protesto tão claramente.

Dessas manifestações, a grande mídia retirou a ideia de que o país estava desgovernado e sem liderança, de maneira a justificar uma ação séria e firmedeixando implícita a possível solução a partir de um resgate da força e austeridade,  atualizando para o momento contemporâneo a mesma mensagem com que a revista propunha nos anos 70 na capa aqui exemplificada com a imagem do general-presidente.

Mas vejamos um pouco como foram construídas essas mensagens transmitidas pela grande mídia televisiva e por seus articulistas. Iniciemos com um programa jornalístico da Argentina que critica a forma como a Rede Globo de televisão mudou a abordagem do conteúdo que transmitia em relação às manifestações de 2013. Para isso, o programa argentino analisa duas falas de um comentarista político da Globo.

É claro que essa mudança de postura não foi exclusiva dessa emissora de televisão, vejamos uma análise de como a grande mídia tentou delimitar o olhar e a interpretação de seus espectadores sobre as manifestações. A princípio, conforme as intenções dos veículos de comunicação, o foco do fenômeno foi editado e, de acordo com imagens e textos (falas) apresentados, buscava-se delimitar o problema.

Para deixar mais fundamentada essa análise dos processos como a grande mídia editou e direcionou a leitura das manifestações, acessem o comentário “Técnicas para a fabricação de um novo engodo". 

Após a leitura desse comentário, destacamos o trecho a seguir:

 

"[...] em momento algum foi discutida a questão do aumento das tarifas. O fundamental são os meios: o manifesto foi violento ou não, houve, ou não, negociação entre as partes, quais os trajetos e pontos ocupados, quantas pessoas aderiram etc." (VIANA, 2013)

 

Ou seja, aquilo que era a causa central das manifestações foi retirado pelas reportagens, que passaram a valorizar o protesto contra tudo.

"[...] os repórteres entrevistaram pessoas aleatórias na passeata, cada qual com uma demanda diferente e nenhuma delas referente à finalidade concreta do ato: 'saúde', 'educação', 'segurança' etc." (VIANA, 2013)

As manifestações, dessa forma, perderam o foco político e caíram no espetáculo da democracia. Assim, fica bonito manifestar desde que seja por coisas genéricas, que não permitem articular em prol de algo plausível, como diminuição das tarifas de transporte ou pelo aumento de salário dos professores. Quando se instala esse vazio político entre os manifestantes, a mídia catalisa os signos do protesto para os interesses de suas corporações: daí fazer uso da luta contra a corrupção.

"Mas a mídia está fabricando uma amarração artificial: a 'corrupção' [...]. Trata-se da falsa bandeira mais útil para a grande mídia por uma razão ideológica: ninguém em sã consciência seria favorável à corrupção." (VIANA, 2013)

Veja bem, não se está aqui tentando eximir o então governo federal de sua falhas e problemas que envolvem as denúncias de corrupção, mas o que estamos destacando é a forma tendenciosa com que boa parte da grande mídia enviesou a questão, desfocando os aspectos que podiam fugir do controle e dos interesses dos grupos políticos e econômicos a que essa mídia está mais próxima, e focando sobremaneira a questão da corrupção em si.

 

Ao perceber a ênfase dada à corrupção em alguns partidos e algumas escalas governamentais, vamos entendendo a lógica de produção das informações sobre as manifestações: estabelecer uma relação entre os protestos e a corrupção política com foco no governo federal. Assim, a questão do aumento das tarifas, ou da política pública de transportes, fato crucial para a maioria de estudantes e de trabalhadores de quase todos os municípios brasileiros, ficou eclipsada pelos interesses da grande mídia.

A maneira com que se tentou delimitar as manifestações – as quais, muitas vezes, voltaram-se contra os próprios veículos da impressa – foi criar duas classes de manifestantes: os bem comportados e os baderneiros. Dessa forma, justifica-se a ação da polícia, ou seja, a ideia subjacente de que há os "espancáveis" e os "não espancáveis". No entanto, o que mais assustou a grande mídia, assim como as administrações públicas, tanto em nível municipal quanto estadual e federal, foi que a convocação para as manifestações não ocorreu por meio dos veículos tradicionais, mas pela internet e pelas redes sociais, que não se encontram sob controle do Estado e nem da grande mídia.

O que significa dizer que os mecanismos elaborados pelas grandes corporações midiáticas para delimitar os sentidos das manifestações, acabaram sendo criticados e desmascarados pelas novas mídias digitais na internet.

Essa nova mídia, muito mais dinâmica e capaz de utilizar outras tecnologias de comunicação, permite maior autonomia para os usuários, e maior interatividade entre quem produz, quem divulga e quem acessa às informações

Essas mídias alternativas são linhas de fuga em relação às grandes corporações, provocam rasuras e criam novos territórios comunicativos, mas essa mídia maior tenta interferir nos mecanismos informativos presentes na internet, buscando fazer desta um apêndice que reforça as ideias delimitadas pelas grandes corporações.

 


 

Um exemplo disso é a criação de blogs que visam comentar, na rede de computadores, as informações que a grande mídia delimita como verdade. Acessem à página do Diário do Centro do Mundo para ver o comentário sobre a forma de ação de alguns blogueiros da grande mídia na internet. Veja a reportagem sobre “Por que Jabor e os blogueiros da Veja mudaram de opinião sobre os protestos?”.

Percebemos, assim, que a internet deve ser explorada para se obter outras informações e leituras dos fatos, de maneira a ampliar a visão espacial dos fenômenos. Mas isso deve ser feito com uma análise crítica sobre o tipo de informação, pois, muitas vezes, está-se usando este espaço eletrônico para radicalizar ideias já delimitadas pelas grandes corporações midiáticas. Temos que saber nos localizar e nos orientar nesse ciberespaço da rede de computadores.

Não devemos fazer da internet espaço para reforçar ideias e valores prejudiciais às relações humanas, que coíbem o direito à diferença, neguem a multiplicidade inerente ao meio social e se pautem no preconceito e na violência em relação ao outro. Para tal, deve-se construir a atitude de analisar as informações repassadas na rede, pois muitas são falsas e visam ocultar os fatos e confundir a elaboração de pensamentos críticos e fundamentados.

Construindo Informações

Convidamos você a analisar esta capa de revista Veja.

Depois, analise a entrevista que O Globo fez com Marcola, o líder do PCC.

Procure ver os processos de montagem dessas mensagens. O que elas induzem a pensar? Elas são verdadeiras ou não, por quê?

Após esse exercício de análise, voltaremos para a segunda parte deste tópico.

 


Bom trabalho!


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