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Tópico V - Territórios da Mídia: Construindo Informação e Imagens Espaciais

 

A crítica ao poder das informações midiáticas deve estar relacionada com a potencialidade de instaurar outros olhares que os recursos tecnológicos informativos e comunicacionais têm, capacitando os alunos para criarem suas próprias imagens, e não apenas reproduzirem clichês já delimitados pelo contexto mercadológico das mídias. Como o tema é muito amplo e complexo, vamos aqui selecionar alguns casos para exemplificar e exercitar nossa proposta de abordagem.

Iniciemos com a discussão sobre o poder político e econômico dos grupos de mídia no Brasil. Para isso, sugerimos que assista ao vídeo Como a mídia brasileira sufoca a liberdade de expressão (2011).

Como a dinâmica retratada no vídeo se repete nas escalas estaduais e municipais, além de ocuparem cargos no poder executivo, podemos deduzir o grau de influência desses donos de meios de comunicação na formação do imaginário espacial do Brasil. Sobre esse assunto, acesse também a reportagem Cresce número de políticos vinculados aos meios de comunicaçãoEsse texto do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) aponta que:

"No Brasil, 271 políticos são sócios ou diretores de emissoras de televisão e rádio [...] 147 são prefeitos (54,24%), 48 (17,71%) são deputados federais; 20 (7,38%) são senadores; 55 (20,3%) são deputados estaduais e um é governador." (MARINI, 2008)

O problema é que os pedidos de renovação e de novas outorgas para concessões públicas, as quais permitem o controle de canais de rádio e TV, passam pela aprovação dos próprios deputados e senadores, e esse oligopólio político-econômico reforça a prática autoritária e antidemocrática como o poder é exercido nos mais diversos pontos do território brasileiro; ou seja, reproduz-se a velha prática dos interesses privados dos coronéis rurais para comandar os poderes públicos, agora, modernizada pelo controle das mídias sediadas no meio urbano.

No site Donos da Mídia, vemos o mapa do Brasil com a localização de cada concessionária de uma das cinco grandes redes de comunicação. Se relacionarmos a essa cartografia os dados dos partidos que possuem maior número de políticos vinculados a esses grupos de comunicação, assim como dos tipos de veículos que controlam, teremos a forma territorial da geografia do poder midiático brasileiro. Uma das consequências dessa concentração de poder é a grande influência desses grupos midiáticos nos processos administrativos do território brasileiro, tanto na escala municipal quanto na federal.

 

A maneira como esses veículos midiáticos editam as imagens e os textos que transmitem é capaz de delimitar o sentido como a informação deverá ser apreendida por aqueles que receberão a mensagem.

Vejamos, por exemplo, as capas de uma revista jornalística vinculada a uma dessas famílias proprietárias de meios de comunicação. Entre os minutos 9:30 e 9:43 no vídeo Como a mídia brasileira sufoca a liberdade de expressão, vemos três capas, descritas a seguir.

Na primeira, há a foto de um general presidente com um texto elogioso ao seu poder de liderança.

Na segunda, vemos a imagem de uma bandeira e um texto desqualificando os movimentos sociais, delimitando-os como "baderneiros".

Na terceira, há a fotografia de um corpo feminino, cuja legenda fala sobre saúde sexual.

 

O vídeo Como a mídia brasileira sufoca a liberdade de expressão (2011) aborda a questão da oligarquia midiática

Abaixo das capas, vemos o que os autores do vídeo identificam como a real mensagem que as montagens de imagens e textos estão informando: “esquerda responsável”; “esquerda delirante”; “mulher mercadoria”. Agora, comparemos essas três capas com outras três mais recentes.

O perfil político ideológico e conservador da revista se desdobra na primeira capa por meio da divulgação da imagem de super-homem: jovem, saudável e competente, com a qual é elaborada a informação sobre o político apoiado pela revista; na segunda, é dada a classificação de baderneira aos manifestantes que não atendem à lógica ordeira da revista; na terceira, é reproduzida a preocupação com o comportamento feminino, mas com uma imagem que reforça a ideia da mulher como objeto sexual. No vídeo, a apresentação sobre temas relacionados a comportamentos e valores morais reforça a ideia da mulher como objeto sexual.

Comparando as três capas do vídeo com as capas por nós selecionadas, identificamos a continuidade de leitura política e de postura cultural e ideológica desse grupo midiático.

A postura dessa revista se articula com as informações produzidas e editadas pelos demais grupos midiáticos. Podemos deduzir, dessa forma, que a diversidade de ideias e expressões culturais de um território, como o brasileiro, fica circunscrita ao que a grande mídia delimita.

 

Capa de revista que parodia a figura do super-homem.

Capa de revista sobre as manifestações sociais.

Capa da revista abordando um escândalo sexual na televisão aberta.

 

Voltando ao vídeo, em 10:18 há a sobreposição das fotos dos rostos dos donos dos meios de comunicação no Brasil sobre as dos onze jogadores da seleção brasileira de futebol; ou seja, aquilo que a geografia maior tentava fazer na sala de aula, elegendo alguns elementos para que o conjunto de estudantes reproduza como referenciais identitários do território nacional, hoje, a grande mídia faz ao editar o que deve ser informado e como se deve pensar todos aqueles que assistem, ouvem ou leem suas informações.

 


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