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Tópico V - Territórios da Mídia: Construindo Informação e Imagens Espaciais

PARTE A

Abordaremos aqui algumas ideias que envolvem a produção de sentido territorial, principalmente da identidade do território do Brasil, observando os processos que as mídias desenvolvem para consolidar a imagem espacial do lugar, a partir de determinadas informações.

A importância de abordar esse tema deve-se a dois acontecimentos. O primeiro é a mudança de foco do discurso geográfico escolar, que era um dos principais mecanismos de consolidação da identidade territorial antes do surgimento das grandes mídias de massa (cinema, rádio e televisão); todavia, com a consolidação dos novos veículos informativos, a disciplina de Geografia no Ensino Básico entrou em crise e precisou justificar sua função escolar.

O segundo diz respeito à adaptação da disciplina nesse novo contexto. Isto é, com o surgimento das mídias pautadas nas tecnologias computacionais e de telefonia celular, criou-se um novo espaço, o virtual ou ciberespaço, que tenciona os referenciais tradicionais do espaço físico e, consequentemente, os referenciais tradicionais do pensar geográfico.

Quanto ao primeiro acontecimento, situado historicamente entre o fim do século XIX e a primeira metade do século XX, é preciso considerar que o conteúdo da Geografia na sala de aula era centralizado na mídia impressa do livro didático e visava exercitar nos alunos a reprodução de informações que permitissem a memorização da forma do território nacional.

Quando surgiu o rádio, o cinema e principalmente a televisão, a formação da imagem do Brasil ficou mais dinâmica, não restrita à reprodução de informações nas horas de estudos em sala de aula. Ver a floresta amazônica na tela do cinema, a enormidade de São Paulo no telejornal ou ouvir o canto alegre do forró nordestino no rádio passou a ser mais prazeroso e mais cômodo do que ficar decorando informações dos livros didáticos.

Tal situação reverberou no ensino de Geografia de duas maneiras. Primeiro, colocou em xeque a função do conhecimento geográfico, uma vez que este não podia continuar priorizando apenas um discurso de formação da identidade oficial do Estado-nação.

 

Segundo, porque priorizou uma discussão sobre o papel da mídia no processo de construção do imaginário espacial do território brasileiro.

Perante esse duplo desafio, o primeiro enfrentamento consiste em desenvolver uma abordagem mais ampla para o conhecimento geográfico escolar, o qual não pode se restringir à sua função anterior: fixar os referenciais necessários para a construção territorial do Estado.

A linguagem geográfica precisa abordar a dinâmica espacial em sua multiplicidade e em suas diferenças, daí a necessidade de se buscar referenciais mais pertinentes para a leitura da complexidade escalar da territorialidade e dos fenômenos para os(as) estudantes melhor se orientarem e se localizarem frente às novas demandas.

O segundo enfrentamento requer a ampliação dos referenciais temáticos, dialogando com outras áreas do conhecimento, com o intuito de melhor perceber o poder e os limites dos processos comunicativos e informativos. Nessa perspectiva, faz-se necessário discutir em sala de aula as leituras possíveis da construção territorial produzida pelo fenômeno midiático. Essa necessidade é abordada pelo vídeo Mídia e educação: espaços de tensão (2010), que indicamos a seguir.

O vídeo Mídia e educação: espaços de tensão (2010) destaca a importância de a escola considerar a mídia como uma instância educadora e suas implicações no contexto escolar

 

O debate a que acabamos de assistir aponta para a presença das mídias de comunicação, principalmente a televisão e a internet, na vida cotidiana das pessoas. Diante dessa presença e do aceite da população dos aspectos de entretenimento passados por esses veículos comunicativos, coloca-se para os educadores e para a escola as tarefas de analisar e usar esses recursos para exercitar o pensar e dar outras direções ao conteúdo trabalhado por esses veículos. A escola encontra-se defasada em relação ao trabalho com as mídias, principalmente as imagéticas, pois se pauta ainda muito na escrita e na oralidade. Quando emprega mídias imagéticas, como vídeos e documentários, geralmente o faz para ilustrar conteúdos já definidos e presentes nos meios impressos.

Entre os minutos 3:48 e 4:28, o vídeo Mídia e educação: espaços de tensão (2010) destaca que o importante de se trabalhar as novas ferramentas midiáticas em sala de aula é a possibilidade de não só reforçar o já estabelecido como conteúdo mas também abrir espaço para a produção de novas imagens, elaboradas pelos próprios alunos.

Perante isso, a escola deve atualizar-se e assumir a importância de trabalhar criticamente os produtos e os veículos midiáticos para, assim, oferecer ao aluno subsídios que lhe permitam identificar uma lógica no processo de produção das mensagens. A escola também deve buscar entender como as novas mídias participam nos mecanismos de elaboração dos referenciais de localização e de orientação dos(as) alunos(as) no mundo.

Ou seja, paralelamente ao exercício da leitura crítica das mensagens que circulam na mídia e da identificação dos interesses políticos e territoriais que estão imbricados na produção dessas informações, a escola deve estar atenta ao modo como a relação dos(as) alunos(as) com as novas mídias lhes auxilia a ler a dinâmica espacial do mundo que os envolve. A questão não é apenas demonizar e culpar a televisão, o celular e a internet pela suposta alienação dos alunos e pela violência escolar, e sim saber incorporar esses elementos, com os quais os(as) alunos(as) relacionam-se cotidianamente, ao contexto dos estudos promovidos em sala de aula.


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