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Tópico I - Pensar a Linguagem: a Grande Dúvida Geográfica

Para deixar mais claro, voltemos novamente para o nosso exemplo. 

A escola, como qualquer outro fenômeno, nunca é algo fixo e isolado em relação ao contexto espacial do mundo. Em nosso imaginário espacial, a experiência com o lugar "escola" demarca a relação dinâmica dos diversos fenômenos que o constituem. Entendemos, por exemplo, como oriundas de famílias de bairro(s) próximo(s) as crianças que brincam no pátio de determinada escola. A distribuição espacial das famílias também demarca a região do fenômeno “morada das famílias”, que tem seu vetor na escola, por meio das crianças que ali convivem. O conteúdo trabalhado na sala de aula é o acontecer da “indústria editorial”, que compõe parcela da “indústria gráfica nacional” e delimita a região de ação desse fenômeno que ocorre cotidianamente no interior da escola.

Dessa maneira, o reconhecimento da escola como fenômeno geográfico significa construir uma paisagem como espaço de ações e vivências territorializadas dos vários elementos que a constituem (alunado, famílias, indústria editorial, politicas educacionais etc.). As ações administrativas na escola, por meio de reuniões de planejamento e avisos da direção, são a territorialização das políticas educacionais, em suas escalas federal e estadual, além de municipal, que só se efetivam no contexto do território escolar.


Eis, aí, o sentido propriamente geográfico desse lugar denominado escola.

 

Façamos uso de outro exemplo para reforçar esse entendimento. Pensemos num jovem que terá de se deslocar de ônibus entre o local em que mora e o trabalho. Geograficamente não podemos entender isso apenas como o deslocamento de um corpo entre dois pontos no território. Esse entendimento se restringe a uma geometria espacial. Caso o jovem nunca tenha feito esse percurso, precisará eleger elementos de orientação para se localizar, terá de agenciar diferentes estratégias que possam auxiliá-lo, como perguntar para alguém que já passou por essa experiência (onde pegar o ônibus, qual ônibus pegar, onde parar etc.), consultar um mapa da cidade, que apresenta o fenômeno urbano em uma determinada escala etc.

 

 

Essas várias estratégias são fenômenos que se apresentam em diferentes escalas temporais e espaciais, os quais o jovem deverá articular para definir o território da cidade a ser vivenciado. Nessa lista, por exemplo, deverão ser incluídos ainda o cálculo do custo mensal com transporte e com alimentação, e a análise do melhor horário de deslocamento – pois, conforme o tamanho da cidade, o jovem deverá saber o melhor horário para ir e vir, a fim de evitar demoras em congestionamentos ou correr riscos de furtos em determinadas áreas do percurso.

A linguagem geográfica é uma maneira de articular conceitos que permitem ao ser humano pensar a lógica espacial do mundo a partir da forma do lugar em que se encontra, como no exemplo da escola. O território delimita a região de mobilidade, que se expressa numa forma espacial: a paisagem de sua sobrevivência no lugar. Essa forma de pensar é inerente aos processos de vivência humana, portanto, não se restringe ao rol de conteúdos obrigatórios que temos de passar para os alunos. Dizendo de outro modo, Geografia é a linguagem que expressa a forma de pensar a ordem espacial dos fenômenos. 

Para abordar essa questão, nos apoiamos novamente na leitura do texto do Douglas Santos.

 

Veja o que esse autor afirma:

"[...] a Geografia não nasce como um conhecimento resultante da reunião de um conjunto de sábios ou, mesmo, de uma ou outra obra que qualquer um deles poderia ter escrito. Trata-se, de fato, de certo tipo de comportamento associado diretamente às nossas necessidades de sobrevivência." (SANTOS, 2007)


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