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Tópico II - Derivas Minoritárias da Geografia Maior

PARTE B


Foi pedido que você analisasse o projeto pedagógico Crescimento urbano em Campinas, água: distribuição e poluição e pensassem em que sentido essa atividade poderia ser entendida como proposta de geografia menor. Depois, indicamos que acessasse ao volume 3 das Orientações Curriculares do Ensino Médio e lessem o item "3.2 Eixos temáticos: articulação entre conceitos e conteúdos". Após leitura, foi solicitado que debatessem os seguintes questionamentos:

- em qual(is) eixo(s) temático(s) a atividade realizada pela Escola Estadual Aníbal de Freitas melhor se encaixa?

- como fazer a articulação dos conceitos e dos conteúdos desse(s) eixo(s) temático(s) com o trabalho dos alunos?

- os PCN, quando propõem essa forma de trabalhar, podem ser caracterizados como um estímulo à produção de geografias menores?

Bom, e aí o que você concluiu? 

Vejamos como está estruturado o trabalho da escola:

 

 

Primeiro, são apresentados os objetivos com a atividade; na sequência, temos a problematização do objeto de pesquisa para cada uma das disciplinas envolvidas e, depois de discorrer sobre como foram desenvolvidas as aulas, as autoras descrevem a metodologia utilizada.

O texto demonstra a importância da integração entre as disciplinas para a produção científica na escola. É um projeto grande, rico e diversificado, até mesmo inovador em certos aspectos e com objetivos que visam à melhoria do ensino e à capacitação dos(as) professores(as). Mas, em relação ao nosso questionamento quanto ao devir minoritário dessa atividade, em especial em relação à geografia maior, como podemos abordar essa questão?

O trabalho em questão, ao articular uma série de atividades a pesquisas realizadas pelos(as) alunos(as), já deriva em relação à forma tradicional, maior, de se trabalhar o processo ensino-aprendizagem: professor(a) fala, aluno(a) copia.

 

Empregar novas metodologias de ensino é necessário para dinamizar a qualidade da aula, mas, em si, não significa a diferenciação para a elaboração de outros pensamentos espaciais.


O objetivo dessa atividade, que tem a força da interdisciplinaridade, foi priorizar os elementos de análise dos dados de poluição para, no final, determinar o que deveria ser feito. Os(As) alunos(as) exercitaram habilidades de observação, de comparação, de descrição, de análise e de síntese a partir dos elementos envolvidos no fenômeno observado.

Mas o desenvolvimento dessas habilidades visavam constatar que o meio ambiente está degradado e que temos de fazer algo em relação a isso. De que forma essa constatação pode derivar em uma potência de pensamento quanto ao sentido da dinâmica espacial da cidade de Campinas?

 

E o que significa "derivar em uma potência de pensamento quanto ao sentido da dinâmica espacial"? Calma, vamos aos PCN buscar um esclarecimento para isso, no terceiro volume das Orientações Curriculares para o Ensino Médio, na seção destinada à disciplina de Geografia, no subitem 2.1, sobre conteúdos e metodologias no ensino de Geografia, encontramos o seguinte:

"Saber ler o mundo para compreender a realidade e entender o contexto em que as relações sociais se desenvolvem implica não só se ater na percepção das formas, mas também no significado de cada uma delas. É a partir do cotidiano que os alunos perceberão os diversos lugares que compõem a Geografia, ampliando a dimensão limitada que às vezes se tem dela." (BRASIL, 2006, p. 52)

Os próprios PCN apontam que o trabalho da disciplina de Geografia não deve restringir-se à constatação da forma do fenômeno em si, ou seja, constatar que o ribeirão está poluído, que o ambiente está degradado e que a culpa é do homem. Para não ficar na obviedade da forma, é necessário entender o seu significado no contexto das relações sociais específicas.

Isto é, faz-se necessário questionar o projeto de sociedade que estamos construindo e, portanto, perceber que o estudo não pode ficar restrito ao currículo escolar, mas deve estar interligado ao contexto espacial da sociedade de que essa escola faz parte.

 

O que explica a atual situação da poluição ambiental de um rio não é só o fato de determinada indústria utilizá-lo como depósito de dejetos, ou de que as casas de determinada rua ali despejam seu esgoto. É claro que a indústria e o esgoto das casas poluem o rio, mas o fato de elas estarem localizadas na sua margem e usarem a água dessa forma é decorrência de um projeto societário que estabeleceu esse referencial geográfico de produção do território.

Assim, estuda-se um fenômeno local, mas não se fica restrito a ele, tal fenômeno é um agenciador de pensamentos e de valores que proporcionam o exercício de leitura da dinâmica espacial do mundo que estamos produzindo.


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