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Tecnologias para Ensinar e Aprender Biologia

Em qualquer das áreas do conhecimento na escola as TDIC podem ser incorporadas. Assim, terão lugar na Biologia, como em qualquer outra disciplina. Mas, como já foi dito, não terá sentido o usar pelo usar. É essencial que se dê significado ao uso na perspectiva do(a) aluno(a) que se quer formar, atento ao seu contexto, buscando trazer a potencial contribuição das TDIC para novos fazeres pedagógicos, alterando-se o que vem marcando a realidade do ensino de Biologia.

Por conta dos vestibulares e, mais recentemente, do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), o ensino de Biologia tem-se transformado em preparação dos(as) alunos(as) para esses exames. A ação do(a) professor(a) vem caracterizando-se pela informação dos(as) alunos(as) nos temas da Biologia e pela replicação do sistema de avaliação de vestibulares e das provas do ENEM. Deixa-se de lado a formação dos(as) estudantes, que ainda deve ser o objetivo na Educação Básica, para centrar-se na informação e, não raro, no quase “adestramento” dos(as) estudantes para os exames aos quais se submeterão. Aprende-se Biologia para fazer exames, não na perspectiva de completar-se, juntamente com a Física, a Matemática e a Química, a formação no campo das ciências.  

Além disso, o ensino de Biologia, como de maneira geral o de Física e o de Química, desenvolvido apenas como a reprodução de fatos “oficiais” e dogmas, como vem acontecendo, tem um efeito negativo quando se pretende o desenvolvimento da mentalidade científica e, no limite, estimular estudantes para as carreiras científicas. Como foi destacado, esse método de ensino divorcia as conclusões da ciência dos dados e dos quadros conceituais que dão sentido elas. Como consequência, o(a) estudante aprende que a ciência é algo não confiável e sem relação com a realidade (KLINCKMANN, 1970).

Evidentemente que seria utopia querer desprover o ensino de Biologia, como de maneira geral as demais disciplinas do Ensino Médio, do caráter de preparação para os exames. E é perfeitamente possível integrar informação e formação. Aliás, a velha polêmica "a escola forma ou informa?" nos parece descabida.

Reconhecemos a memória declarativa como estando estruturada em memória semântica, ou seja, memória de fatos, e memória episódica, isto é, a memória para eventos. O conhecimento declarativo é aquele no qual as informações representadas são acessíveis sob a forma de fatos e/ou dados. As informações, fatos ou dados, podem ser conscientemente evocadas. Em outras palavras, o sujeito tem acesso consciente ao conteúdo da informação.  A Biologia envolve, essencialmente, processos de aprendizagem declarativa, lidando com fatos/dados, especialmente na forma de conceitos.

David Ausubel considera que a aprendizagem é um processo que envolve a interação de uma nova informação com a estrutura cognitiva daquele(a) que aprende. Assim, tem importância e deve ser considerado o conhecimento prévio que o indivíduo possui, pois este será  o ponto de partida para um novo conhecimento. A aprendizagem ocorrerá quando a nova informação ancorar-se em conceitos/proposições relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva do(a) aluno(a). Assim o(a) estudante encontra significado para a nova informação. Portanto, é necessário o ponto de ancoragem, que Ausubel denomina "subsunçor", no relacionamento da informação nova com o que o(a) aluno(a) já sabe. Na ancoragem, no relacionamento entre a nova informação e os conceitos anteriormente aprendidos/apreendidos, o(a) aluno(a) encontra sentido no que está aprendendo de novo; estabelece-se, assim, a aprendizagem significativa.

Considerando esses aspectos, a aprendizagem na Biologia se coloca como um espaço apropriado para a incorporação de mapas conceituais, para a aprendizagem que podemos dizer “baseada em links”.  Além disso, por ser uma ciência da vida, a Biologia aborda temas que têm enorme significado na sociedade contemporânea, como as questões ambientais, os cuidados com a alimentação e hábitos saudáveis, dentre outros.

 

 

 

Não nos parece impossível, embora possa ser difícil para alguns(mas) professores(as), associar a informação do conteúdo de Biologia com práticas que estimulem a autoria, favoreçam o trabalho cooperativo, provoquem a reflexão, exijam a criatividade e a capacidade crítica, em síntese, permitam uma formação dos alunos que seja integral. Mas, apesar do número reduzido, algumas iniciativas de utilização de estratégias didáticas que dariam destaque ao diálogo entre teoria e prática, incentivando o estudante ao protagonismo de sua aprendizagem e dele exigindo a autoria de textos e ideias, puderam ser registradas (BORGES; LIMA, 2007).

O documento que estabelece os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ensino Médio para a área das Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias é claro ao estabelecer os conjuntos de competências que os(as) estudantes devem desenvolver durante seu aprendizado: representação e comunicação; investigação e compreensão; e contextualização sociocultural.

A busca da construção dessas competências na área de Ciências da Natureza converge com a área de Linguagens e Códigos naquilo que se refere ao desenvolvimento da representação, da informação e da comunicação de fenômenos e processos, e, ainda, com a área de Ciências Humanas, ao apresentar as ciências e as técnicas como sendo construções históricas, resultado da participação permanente em um desenvolvimento social, econômico e cultural.

No desenvolvimento das competências da representação e comunicação, os PCN enfatizam a utilização do que denomina “tecnologias básicas de redação e informação” (BRASIL, 1998, p. 12), explicitando os computadores. Se os PCN reconheciam, há mais de uma década, a importância da incorporação do computador na educação, projetivamente esse recurso tecnológico é considerado no Documento-Referência do Plano Nacional de Educação.

No documento que está sendo discutido e que norteará a educação brasileira para o próximo decênio, é ressaltada a necessidade de “promover o acesso e o uso qualificado das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) no âmbito da educação em todos os níveis, etapas e modalidades” (CONAE, 2014, p. 44), com a finalidade de:

 

  • selecionar, certificar e divulgar a tecnologia educacional, assegurada a diversidade de métodos e propostas pedagógicas, com preferência para softwares (SIC) livres e recursos educacionais abertos, bem como o acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em que for aplicada.

  • inovar as práticas pedagógicas nos sistemas de ensino, com a utilização de recursos educacionais abertos, que assegurem a melhoria do fluxo escolar e a aprendizagem dos(as) alunos(as).

  • disseminar as TIC e os conteúdos multimidiáticos, nas diferentes linguagens, para todos os atores envolvidos no processo educativo, por meio da manutenção e funcionamento de laboratórios de informática e formação continuada dos profissionais da educação e estudantes.

 

Como destaca Selma Pimenta (2012, p.25), “a finalidade da educação escolar na sociedade tecnológica, multimídia e globalizada é possibilitar que os alunos trabalhem os conhecimentos científicos e tecnológicos desenvolvendo habilidades para operá-los, revê-los e reconstruí-los com sabedoria.”

Mas, sem dúvida, uma mudança de atitude dos(as) professores(as), que levará à adoção de novas práticas pedagógicas, depende de uma formação adequada, contemporânea.

E esse é o nosso desafio, juntos, construirmos uma formação que nos permita, a todos e todas, fazer a escola que tem sentido no século XXI, preparando-nos para educar na cultura digital.


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