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A Incorporação Curricular das Tecnologias Digitais para Aprender Biologia na Contemporaneidade

Atualmente, considerando a relação de nossa sociedade com as TDIC e o seu potencial papel na escola, a busca por uma formação docente com ênfase em tais recursos configura-se como preocupação do(a) educador(a) consciente da relevância da formação continuada. Contribuir na formação de professores(as) de Biologia para que possam lidar com as TDIC em sala de aula em uma “civilização digital” (BELLONI, 2012)  é o nosso objetivo maior.

A modernidade, período que teve início no século XVIII, após o fim da Idade Média e do feudalismo, foi marcada pela razão e pelas grandes verdades. Já na pós-modernidade vê-se a contestação do sujeito da razão, trazendo como consequência a fragmentação do sujeito e a performatividade. Seria o tempo do fim das verdades absolutas: toda verdade faz-se aqui e agora, no seu contexto. É a modernidade líquida (BAUMAN, 2001), o tempo do efêmero, quando, como diz o título de um famoso livro: Tudo que é sólido desmancha no ar (BERMAN, 2007).  E é justamente a essa pós-modernidade que precisamos adequar nossos métodos de ensino.

Em uma sociedade fortemente marcada por tecnologias, notadamente as de base digital, a escola deveria estar também atenta a recursos como o computador e a internet. Ignorá-los é virar as costas para a própria ambiência da sociedade contemporânea, é não querer reconhecer uma realidade que permeia nossa sociedade, em seus diversos extratos. Mas continuamos a fazer uma escola à moda antiga, assentada essencialmente em um modelo adotado há mais de um século e estabelecido com bases industriais. Porque, sim, as fábricas, de alguma maneira, foram determinantes na construção de um modelo de escola.

No século XIX, na expansão do capitalismo, nos Estados Unidos, a industrialização demandou muita mão de obra. Uma forma de assegurar um número suficiente de trabalhadores(as) foi a imigração. No estado de Massachusetts, onde as indústrias expandiram-se em grande escala, sentiu-se a necessidade de “americanizar” os(as) imigrantes vindos de diferentes culturas, e a escola foi um dos caminhos encontrados. Horace Mann, secretário de educação daquele estado, decidiu implantar o modelo de escola que fora idealizado, na Prússia, por Johann Gottlieb Fichte. A proposta de Fichte era a criação de um sistema público de educação universal, obrigatório e mantido com recursos públicos. O objetivo era formar cidadãos e cidadãs leais e complacentes, que aprenderiam o valor de submeter-se à autoridade de pais e mães, dos(as) professores(as), da Igreja e, em última instância, do rei. Fichte (2013) afirmava que “se você quer influenciar alguém, precisa fazer mais do que apenas falar com uma pessoa; você precisa moldá-la e moldá-la de tal maneira que ela não deseje outra coisa se você não quiser que ela deseje.”

O modelo adotado em Massachusetts acabou determinado pela fábrica, até porque ele ajudaria a preparar os(as) futuros(as) trabalhadores(as) para a indústria. Como os pais e as mães ficavam o dia todo nas fábricas, as escolas passaram a ser de tempo integral. Isso tornava o processo ainda mais eficiente: o afastamento dos(as) integrantes de uma família dificultava, ou mesmo impedia, a transmissão de valores culturais; era preciso “americanizar” as crianças, futuros(as) operários(as).

E no paralelo com as situações da fábrica, a escola foi organizando suas estratégias.

 

 

Assiduidade e pontualidade eram cobradas na escola, da mesma forma que a fábrica as exigia dos(as) seus(suas) trabalhadores(as). As carteiras enfileiradas lembram, sem dúvida, os postos de trabalho. Ao obedecer ao(à) professor(a), a criança prepara-se para, no futuro, obedecer a seus(suas) chefes. Cada estudante deve executar, individualmente, as tarefas prescritas pelos(as) professores(as), da mesma forma que, na fábrica, os(as) empregados(as) executam, na linha de montagem, suas tarefas. Se, na fábrica, o(a) funcionário(a) recebe um salário individual, determinado pela quantidade e qualidade das tarefas cumpridas, na escola, o(a) estudante terá a nota como seu equivalente. Tanto na fábrica como na escola a promoção às categorias (ou classes) seguintes dependerá do tempo, do mérito e das habilidades adquiridas. Na fábrica, a sirene chama para os turnos de trabalho; na escola, o sinal chamará para as aulas. Se olhamos a escola hoje, em pleno século XXI, vamos encontrar, de maneira quase absoluta, esse modelo, que foi pensado em função da fábrica, o denominado modelo fordista-taylorista. Era um modelo pensado para levar ao máximo a produtividade na indústria e o lucro.

No entanto, hoje a própria indústria modifica-se substancialmente, adotando um modelo que foi implantado logo depois da Segunda Guerra Mundial, denominado toyotismo.  Mesmo tendo esse novo modelo de fábrica, a escola continua a pretender educar em um modelo ultrapassado assentado na velha fábrica, sendo esse um modelo de escola que se revela cada vez mais insuficiente.

 

Fonte: Glasbergen (1997)

Em novos tempos, quando mais e mais crianças e jovens têm acesso prático a uma considerável variedade de mídia, em casa, principalmente, e mesmo na escola, uma alfabetização midiática é mais do que nunca importante. Por isso, há uma necessidade de que desenvolvam novas habilidades e competências

O desafio atual para os que fazem parte da escola ou pensam sobre ela é desenhar como deve ocorrer a educação em uma sociedade fortemente marcada pelas tecnologias, em tempos de cultura digital, ou de convergência, ou, ainda, da cultura participativa (JENKINS, 2009). A escola, e não só ela, precisa reconhecer a importância de as crianças e os(as) adolescentes desenvolverem uma consciência crítica acerca das informações a que têm acesso nesse intercâmbio possibilitado pelas TDIC.

Ensinar criticamente a partir das novas tecnologias e para esse novo contexto, exige dos(as) educadores(as) um esforço coletivo para o desenvolvimento de estratégias de docência, que devem ser mobilizadas coletivamente, ainda que precisem ser, de certa forma, adaptadas a cada disciplina. 

Nessa nova perspectiva de ensino, a elaboração metodológica não precisa ser um trabalho individual. É um processo que precisa ser integrado no currículo, pois a mídia-educação tornou-se elemento essencial na construção de habilidades para a cidadania (HOBBS, 1998).

Na era digital, a alfabetização midiática é fundamental para uma cidadania plena e ativa, afirma a comissária europeia para a Sociedade da Informação e Mídia, Viviane Reding. Para ela, a capacidade de ler e escrever, a alfabetização tradicional, deixou de ser suficiente nos dias de hoje. As pessoas precisam de uma maior consciência sobre como se expressar de forma eficaz e como interpretar o que os(as) outros(as) estão dizendo, especialmente em blogs, através de motores de busca, como o Google, ou quando interpelados(as) pelas campanhas publicitárias. Todos(as) precisam estar familiarizados(as) com o novo mundo digital em que vivemos. Para isso, afirma Reding, o acesso contínuo à informação e a educação são mais importantes do que a regulamentação.


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