Já discutimos que a estatística não é apenas interessante, mas, sobretudo, muito útil, uma vez que fornece estratégias e instrumentos para a compreensão da realidade e contribui para a construção de uma argumentação consistente sobre seus problemas, prestando-se também a eventuais propostas de intervenção.
No entanto, essa área do conhecimento possui outro lado, ao qual devemos atentar: por meio da estatística, as pessoas podem ser induzidas a cometer erros de interpretação. Ainda, com a estatística, é possível mentir, mesmo que os dados apresentados sejam confiáveis. Algumas pessoas chamam a atenção para esse mau uso, evidenciando-no com um irônico ditado: “A estatística é a arte de mentir com números”. Existem, de fato, erros estatísticos, mas apenas poucos são efetivamente decorrentes de erros de cálculo.
Para exemplificar esse aspecto da estatística, apresentamos um fato real: no final da década de 1980, o prefeito de uma grande cidade (ou seus assessores) queria justificar o aumento excessivo das passagens de ônibus urbanos em sua gestão. Para tanto, apresentou um gráfico com os índices da inflação do período e outro gráfico com a variação dos preços das passagens no mesmo período. Esse prefeito não mentiu em relação aos valores apresentados, pois eles estavam rigorosamente corretos. Os gráficos também estavam construídos corretamente. No entanto, ele induziu a erro de interpretação, pois colocou, lado a lado, dois gráficos com escalas diferentes: no que se referia à inflação, a escala escolhida enfatizava os aumentos, e, para as passagens, utilizou uma escala de modo que os aumentos não fossem tão perceptíveis. Assim, muitas pessoas passaram a acreditar que o percentual de aumento das passagens era inferior ao da inflação. O interessante, contudo, é que o político não informou o aumento em termos percentuais.
O Ministro da Fazenda de um pequeno país apareceu eufórico na TV, dizendo que a economia estava indo muito bem e que as exportações estavam crescendo muito, ao contrário do que afirmavam seus adversários políticos. Argumentou que, em 2009, ano de sua posse, as exportações estavam na casa dos 43 milhões de dólares e subiram ano após ano, atingindo, em 2012, a marca de 50 milhões. Para ilustrar esses dados, mostrou o gráfico a seguir, que representa o valor, em milhões de dólares, das exportações do país, no período de 2009 a 2012.
Na mesma semana, muito preocupado com as greves do país por melhores salários e com os protestos contra o alto índice de desemprego, o Ministro do Trabalho do país vai à TV e afirma que serão tomadas providências e que o número de desempregados, apesar de grande, não aumentou muito na sua gestão. Declara que, em 2009, quando assumiu a pasta, havia 43 mil trabalhadores sem emprego e que, no ano seguinte, esse número aumentou um pouco e atingiu 45 mil. Em 2012, disse ele, os desempregados somam 50 mil. Segundo suas palavras: “não é muito, pois temos uma grande crise no país". Para ilustrar esses dados, mostrou o seguinte gráfico, que representa o número de desempregados, em milhares, no período de 2009 a 2012.
Convidamos você a fazer uma análise, a partir das situações apresentadas, justificando por que cada gráfico reforça os discursos dos respectivos ministros. Para lhe ajudar nesta tarefa, procure refletir sobre algumas questões:
a. Você concorda com as ideias do texto desta seção sobre mentiras em estatística? Em caso afirmativo, procure argumentos que corroborem essas ideias.
b. Apresente e/ou discuta uma situação na qual é possível distorcer a realidade por meio da apresentação de gráficos e de informações estatísticas.
c. Apresente e/ou discuta propostas a serem desenvolvidas na Educação Básica de modo a auxiliar a interpretação de dados apresentados em gráficos.
Vamos lá!?
