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Tópico VI - Brasil Mundo: Outros Sentidos de Espaço-Lugar

PARTE A

Comecemos este tópico voltando ao texto de Douglas Santos (2007): O que é Geografia?, trabalhado por você em tópico anterior. Nesse texto, o autor começa apresentando o sentido de paisagem para a linguagem geográfica. Quando tentamos ordenar de maneira mais lógica as sensações percebidas do fenômeno, temos a paisagem se expressando como território.

O autor esclarece que todo ser humano passa a identificar os fenômenos no território de acordo com seus interesses e necessidades. Essa delimitação de algo no território é o que chamamos de região. Então, ele coloca esses conceitos estruturadores da linguagem geográfica como elementos articuladores para se pensar a espacialidade dos lugares. Nesse momento, destacam-se os conceitos de espaço e lugar.

Portanto, a paisagem de um fenômeno que conseguimos ordenar territorialmente em seus sentidos e funções torna-se a região na qual podemos estabelecer ações de acordo com nossos interesses e necessidades.

Para tal, o lugar em que regionalizamos nossas ações toma seu caráter geográfico por expressar a forma espacial do fenômeno ali localizado e identificado.

Assim, a forma espacial do fenômeno rocha, por exemplo, é o lugar em que identificamos suas funções e processos.

Nesse aspecto, lugar não é apenas a extensão localizável de um fenômeno a partir de referenciais matemáticos de linhas cruzando um ponto num plano.



 

Lugar também não se restringe a sentimentos subjetivos de pertencimento e identidade cultural ou psicológica, o sentido geográfico de lugar articula esses aspectos extensivos (lugar como uma extensão possível de mensuração) e intensivos (aspectos afetivos e subjetivos, expressos por uma psicologia individual/grupal). Articula-os na direção de se entender lugar como a forma espacial dos fenômenos ali identificados. Ao assim definirmos lugar, parece que encerramos a questão; engano, lugar nunca é algo fixo.

Santos (2007) propõe que pensemos os conceitos articuladores da linguagem geográfica a partir da força da multiplicidade espacial, e não mais pela uniformidade evolutiva do tempo. A fim de elucidarmos melhor isso, precisamos recorrer ao pensamento de Doreen Massey.

Assim, sugerimos que leiam a entrevista com Doreen Massey (2006), para, em seguida trabalharmos algumas passagens do texto.

A autora comenta sobre sua história pessoal e os caminhos que tomou para pensar a geografia sob outra perspectiva. A questão que a incomodava era o sentido de temporalidade linear para entender o espaço.

“Quando fazemos com o espaço uma fila histórica, reduzimos o tempo simplesmente a uma temporalidade.” (MASSEY, 2006, p. 8)

O espaço, portanto, não é o resultado de uma sequência temporal linear, em que o antes gera o agora que explica o futuro do fenômeno no lugar em que ele se encontra.

“Mesmo dentro de mim há muitos tempos: o da degradação do meu corpo, tempo dos encantamentos rápidos, etc. Somos todos uma mescla de temporalidades distintas.” (MASSEY, 2006, p. 8)

A autora está apontando que não existe só uma temporalidade que explica a evolução de um fenômeno, cada fenômeno, de uma rocha a um ser humano, é o processo de agenciamento de múltiplas temporalidades que se apresentam na forma espacial que ali acontece. Lugar, portanto, é a coetaneidade de tempos das múltiplas escalas de fenômenos que acontecem espacialmente


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