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Tópico V - Territórios da Mídia: Construindo Informação e Imagens Espaciais

Assista à reportagem de um grande telejornal a respeito de uma pesquisa científica sobre as  mulheres no funk (ALUNA..., 2013). Veja como o processo de edição da informação limitou a pesquisa de mestrado abordada na reportagem apenas à Valesca Popozuda e ao sentido degradante do uso do corpo associado à manifestação cultural que é seu objeto de estudo. Por meio do comentário feito pela apresentadora, no qual afirma que "a cultura atual vai do luxo ao lixo" – ou seja, "do luxo", bom gosto, "ao lixo", o mau gosto –, o espectador recebe um juízo hierarquizante a respeito das manifestações culturais e da popularização do ensino superior, uma vez que a apresentadora culpa a popularização das universidades pela realização de pesquisas sobre aspectos da realidade que supostamente deveriam ser ignorados.

Mas veja a resposta da pesquisadora sobre essa reportagem. Após destacar o sentido de pesquisa científica, os equívocos da apresentadora e a forma de edição que deturpou o que ela disse na entrevista, a autora afirma:

“O papel do funk na cultura está comprovado [...] pela referência que se tornou para boa parte da juventude brasileira. A reportagem é rasa e não tem qualquer compromisso com a realidade concreta” (GOMES, 2013).

Essa representatividade deve ser levada em consideração, pois não é menosprezando aqueles que apreciam um determinado gênero musical que construiremos uma sociedade mais justa e afirmativa. Ao não se combater essa visão já estabelecida como correta e única, acaba-se reproduzindo injustiças, ódios e ignorâncias mútuas.

“[...] hierarquizar a cultura só prejudica. Essa hierarquia construída ao longo de séculos e baseada em um gosto de classe muito bem definido, no qual apenas o que elites definem o que é cultura e o que não é – ou, nas suas palavras, o que é ‘luxo’ e o que é ‘lixo’ – precisa ser COMBATIDA.” (GOMES, 2013).

 

A escola deve travar esse combate contra os discursos limitantes e formatadores que discutem entre certo e errado e que reproduzem no imaginário social uma identidade genérica e uniforme de Brasil, como a grande mídia representa majoritariamente essa espacialidade. Esse combate também precisa existir quando consideramos o uso da internet. Para que esse veículo não se transforme em reprodutor e reforçador dos valores preconceituosos, estereotipados e autoritários, faz-se necessário buscar a visibilidade de todos por meio do respeito as suas diferenças, de maneira que as imagens que possamos construir de nós e de nossa territorialidade sejam mais dinâmicas, múltiplas e complexas.

Nenhuma expressão cultural é perfeita e pura, ela reproduz, reflete e constrói os referenciais do contexto espacial em que seus criadores e seus apreciadores vivem. Se a sociedade tem problemas, o combate a eles deve ser travado com o intuito de estabelecer outras representações, outros pensamentos e outras vivências sociais. Fazer uso das artes e das mídias torna-se fundamental para a elaboração de um modo de ver o mundo sob novas perspectivas.

Esse uso deve ser conjuntamente com a análise crítica das potencialidades e limites dessas linguagens e desses veículos.

A escola tem esse desafio, que é, ao mesmo tempo, uma oportunidade, pela frente. O ponto que se presta à discussão é: os envolvidos com a realidade escolar estão compromissados com a criação de conhecimento ou estão acomodados e querem apenas reproduzir conteúdos e informações já estabelecidas como corretas e únicas? Para produzirmos conhecimento na direção de um território socialmente mais justo, em que as fronteiras culturais nos enriqueçam mutuamente, o primeiro passo é a escola se abrir para o que os alunos estão vivenciando de referenciais espaciais.

 

Se o funk é um fenômeno representativo no cotidiano dos(as) jovens das escolas em que trabalhamos, ele deve ser abordado, não para que todos o amem ou o odeiem, mas como ferramenta que contribui para melhor entender os limites e as possibilidades da dinâmica espacial da sociedade atual.

 

Para refletir: Representações da Mídia Brasileira

Agora, convidamos você a assistir ao vídeo Brasil, lindo demais (2008), indicado a seguir, e analisar a ideia de Brasil que a mídia brasileira almeja delimitar para as pessoas que participam de festas nas cidades com grandes contingentes de brasileiros.

Procure pensar:

  • quais as imagens indicadas no vídeo e o que representam?
  • essas imagens expressam a diversidade musical e cultural do Brasil?
  • como analisar essas imagens editadas a partir do conjunto de textos lidos e vídeos assistidos que criticam as formas de edição que visam uniformizar e hierarquizar verdades?
  • quais documentos podemos buscar, notadamente na internet, que tensionem essa generalização da ideia de Brasil?

Procure assistir ao vídeo indicado atentando para as questões norteadoras, e logo mais retornaremos. Até mais! 

Brasil, lindo de mais (2008)

Acessar 

Após assistir ao vídeo, você pode acessar três artigos, indicados nos links abaixo, que abordam a questão da mídia e a produção de identidade nacional ou cultural brasileira.

TENSÕES E IMPLICAÇÕES CURRICULARES

A PARTICIPAÇÃO DA MÍDIA TELEVISIVA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL

EDUCAÇÃO E IDENTIDADE NACIONAL: UMA PRODUÇÃO TELEVISIVA DE “VERDADE

Para isso, procure pensar, por exemplo, em que aspecto as duas mídias se aproximam quanto à ideia de natureza e da relação homem-natureza, e como a problemática ambiental é uniformizada e generalizada pelas informações reproduzidas por essas mídias.

Após essas leituras, procure compará-las com o último vídeo, analisar o sentido de Brasil que nele está presente e pensar como seria possível trabalhar a ampliação dessa ideia de Brasil a partir de outras formas de se editar e montar essas imagens de identidade brasileira.

    • Depois, propomos que você faça um pequeno texto expressando o que pensa sobre como o(a) professor(a) deve buscar outras informações para ampliar o questionamento a respeito das problemáticas trabalhadas e busque pensar num trabalho em sala de aula que apresente a dinâmica espacial mais complexa, derivando sentidos minoritários dessas formas maiores com que a mídia fixa a questão. Sugerimos também que pense em formas de integrar as TDIC para incentivar a comunicação e a partilha de saberes entre os alunos. 

Bom trabalho!


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