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Tópico IV - Natureza e Ambiente: Perspectiva Geográfica

PARTE B


 

Olá, após o exercício de análise crítica acerca do vídeo educativo, voltamos a trabalhar com você o nosso tema Natureza e Ambiente: Perspectiva Geográfica.

A atividade proposta visou exercitar a crítica em relação a trabalhos sobre a questão ambiental que tendem a se limitar a ações pontuais e não articuladas politicamente a um conjunto de posturas que se fundamentam em outras escalas e lugares.

Trabalhar a questão ambiental é discutir a ordem econômica mundial, com seus processos ideológicos e culturais, e suas profundas desigualdades e injustiças. É exercitar devires e resistências perante ações que não buscam outros pensamentos e posturas frente à espacialidade do mundo, a qual territorializa valores de exploração, marginalização e concentração de riqueza e poder. É não se restringir a uma concepção de ambiente que percebe a natureza como coisa, objeto externo às relações sociais, mera vítima da ação humana. É estabelecer linhas de fuga em relação ao sentido de humano como algo já definido e de natureza como algo externo a esse humano. Portanto, seria o caso de buscar experimentar outros pensamentos e sentidos do humano como um "devir natureza".

Destacamos os conceitos de Gilles Deleuze, citado por Nabais (2009), para fundamentar o sentido não humano do devir.

"O devir é então esse estado não humano do homem, essa paisagem não humana da Natureza, em que os afetos e os perceptos existem por si." (NABAIS, 2009, p. 117)

 

Devir não é a evolução linear para realizar algo que pensamos como inacabado, como o aprimoramento do que entendemos por homem, ou a concretização de uma sociedade justa. Devir não é o desejo do pensamento humano, mas a própria natureza enquanto rizoma e multiplicidade a se diferenciar sempre, nunca acabada ou finalizada. É o não humano no mundo, são perceptos (bloco de sensações puras) que afetam a tudo e continuam a se desdobrar para além dos que foram afetados.

Devir é tornar-se natureza, vida imanente ao mundo, a força das coisas em afetar e provocar sensações que instauram outras formas de pensar. Como escreve Deleuze (apud NABAIS, 2009, p. 119):

"Trata-se, pois, de uma nova experiência do pensamento, já não como racionalidade exclusiva do Homem, mas como conexão rizomática com o mundo."

Não há hierarquia evolutiva, nem distinção entre o sujeito que pensa e o objeto pensado, há tão somente o afetar por tudo que é vida, o acontecimento da dinâmica espacial em constante diferenciação e multiplicidade.

"Mais de dois mil anos depois de Aristóteles, a fronteira entre o homem e o animal é assim dissolvida. Homo Natura em vez de Homo Sapiens." (NABAIS, 2009, p. 119).

Nesse aspecto, a partir de Deleuze, vamos percebendo que a discussão acerca da questão ambiental deve se pautar na elaboração de pensamentos que ampliem e provoquem rasuras nas concepções já estabelecidas e acabadas de humano e de natureza.

A imanência homem/natureza se potencializa no entendimento de que isso é a própria vida, a qual não cabe em definição acabada, mas se efetiva enquanto processo, numa multiplicidade de possibilidades em aberto.

 

Talvez isso aconteça pelo fato de se retirar do homem a exclusividade de ser pensante, ou mesmo de que exista apenas uma forma de pensar. Ao colocar o devir como natureza, o ser humano pode se identificar como natureza imanente, vida afetada por perceptos que instauram outras formas de pensar, pensamentos sensíveis a toda e qualquer forma de vida.

"O pensamento deixa portanto de ser exclusivo do homem. O pensamento encontra-se nas existências mais elementares, nas mais embrionárias, como pura faculdade de sentir. Esse vitalismo essencial a toda e qualquer forma de existência, esse pensamento tanto do homem como das plantas e dos rochedos, Deleuze condensa-o numa expressão: a vida inorgânica das coisas.'' (NABAIS, 2009, p. 118).

Eis aí a possibilidade de se entender a natureza não como objeto de nosso pensamento, mas como algo que também somos, pois todos somos afetados por blocos de sensações, pura faculdade de sentir o mundo em sua multiplicidade e dinâmica de forças e coisas, para além e aquém do que racionalmente pensamos sobre o mundo.

Nesse sentido, o pensamento enquanto pura faculdade de sentir é uma força inorgânica que afeta a tudo, do ser humano a uma rocha. Esse vitalismo a toda forma de existência não é uma novidade em termos de humanidade, muitas culturas concebem a força da vida em rochas, plantas e animais, os quais possuem faculdades que afetam o humano.

Escultura do artista Bruno Torfs

 

 

 

 

Deleuze não quer instaurar uma nova mística ou religiosidade, mas seu pensamento ajuda a melhor compreender a forte presença de rituais e expressões místico-religiosas que integram elementos como rochas, montanhas, animais, rios, ventos, plantas, árvores, estrelas etc. na dinâmica da vida humana. O problema é que o pensamento ocidental, hegemonicamente arbóreo, em especial o filosófico-científico, radicalizou-se numa concepção de lógica racionalista para desvendar a verdade essencial e definitiva dos fatos e, com isso, passou a ignorar e menosprezar outras formas de pensar.

Uma rocha, por exemplo, a partir de estudos de especialistas, é definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), NBR 06502 como: “material sólido, consolidado e constituído por um ou mais minerais, com características físicas e mecânicas específicas para cada tipo.” (1995, p. 1). A partir disso, são classificadas em três tipos:

 

Rochas ígneas ou magmáticas: resultam da solidificação  do magma vulcânico.

Rochas sedimentares: formadas por acumulação e compactação de sedimentos de outras rochas.

Rochas metamórficas: resultam da transformação por pressão e temperatura de outras rochas.

 

Isso está certo, no entanto, uma rocha não tem como verdade identitária apenas essa definição.

 



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