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Tópico IV - Natureza e Ambiente: Perspectiva Geográfica

PARTE A

Para iniciarmos nossos estudos neste Tópico IV, assistam ao vídeo A história das coisas (2007), de Annie Leonard, e observem o modo como o vídeo apresenta o processo de produção e consumo das mercadorias no mundo:

Pequeno documentário A história das coisas (2007)

Após assistir ao vídeo, podemos destacar o seguinte: a natureza é abordada como recurso natural – matéria-prima para a produção industrial – que produz bens e mercadorias para o consumo. O consumo, por sua vez, é entendido como o fenômeno central do sistema, gerando produtos rapidamente descartáveis que viram lixo e aumentam a poluição. Nesse sentido, concluímos que não há como discutir a ideia de natureza em nossa sociedade como um fenômeno separado do processo lógico que a territorializa enquanto recurso econômico.

No início do vídeo, é apresentada a lógica linear do processo produtivo de nossa sociedade com foco nos EUA, mas que, de certa forma, reverbera em todo o planeta. Essa linearidade idealiza, uniformiza e generaliza fenômenos e processos muito mais complexos, múltiplos e diversos, pois não considera as relações sociais ao longo de cada momento e lugar em que a lógica da produção da territorialidade capitalista acontece.

Portanto, ao tratar a natureza como algo em separado das relações humanas e retirar essas relações dos processos de produção, circulação e consumo, a lógica economicista da espacialidade atualmente produzida tende a idealizar um mundo de abundância eterna, mas que, de fato, está esgotando seus processos de reprodução. Diante disso, discutir geograficamente a relação homem/natureza requer novos olhares e pensamentos, os quais apontam para o entendimento de que tanto a ideia que se tem de natureza quanto a crise ambiental decorrente dessa concepção devem ser abordadas pela análise de como estamos construindo a dinâmica espacial de nossa sociedade.

Não é possível discutir a questão ambiental como algo restrito à lógica dos processos naturais, pois esses processos estão integrados ao modo como as relações humanas regionalizam os sentidos de usos e funções dos fenômenos entendidos como inerentes ao mundo natural, ou seja, se um rio encontra-se poluído, não é apenas a ação humana local predatória que fez seu sistema natural entrar em desequilíbrio.

 


 

Quando um rio está poluído, isso deve-se tanto às ações humanas próximas quanto à lógica de produção dessa territorialidade, a qual se articula globalmente e envolve a todos. Um rio não é apenas algo natural em si, ele é um recurso que pode viabilizar a diminuição de custos e investimentos para propiciar maior lucro para empresas e renda para proprietários de terra, tornando viável a expansão urbana, a concentração de capital e moradias mais baratas para trabalhadores.

Entender o fenômeno “rio” somente como um elemento natural leva-nos a pensar que, para seu sistema natural voltar a equilibrar-se, é necessária apenas a mudança das ações humanas locais.

Abordar a questão ambiental só tem sentido quando se entende que a territorialização dos processos de desequilíbrio ambiental em um lugar depende da articulação dos interesses macroeconômicos das grandes corporações e dos Estados, em suas várias escalas de atuação, com as condições de seu acontecer em cada lugar.

Assim sendo, vamos delineando, aqui, o sentido geográfico de como trabalhar a ideia de natureza e a problemática ambiental. A partir desse delineamento, faz-se necessário, todavia, acrescentar que não abordaremos a natureza na Geografia de maneira tradicional, reproduzindo descrições das formas genéricas de localização, vegetação, bacias hidrográficas, tipos de relevo, classificação climática, solos etc.


 

Além disso, vale informar que a questão ambiental não se restringe ao desequilíbrio dos elementos naturais causados pela ação humana, mas é manifestação das condições territoriais que o homem produz socialmente para garantir a reprodução de sua existência. Para tal, o ser humano agencia diversos fenômenos que possuem escalas diferentes de regionalização, e essas condições, portanto, envolvem desigualdades sociais, exploração de trabalho e concentração de riquezas.

Nesse sentido, se uma sociedade produz desigualdades às custas de exploração e marginalização social, não será apenas incentivando os(as) alunos(as) a plantarem árvores ou consumirem bens produzidos de forma sustentável e ecologicamente correta que iremos resolver o problema da crise ambiental.

A crise ambiental é resultado da forma como as relações humanas atuais produzem sua territorialidade.

Para que essa lógica funcione, porém, a ideia de natureza é considerada como algo separado das relações humanas e passível de ser explorada como um recurso, ou seja, como mais uma mercadoria a ser transformada e comercializada. Nesse caso, ela não pode ser compreendida como os livros didáticos a delimitam tradicionalmente, pois é resultado dos sentidos e funções que atribuímos aos fenômenos que viabilizam as condições de reprodução de nosso sistema social.

 

Para fundamentar melhor essa afirmação, façamos uso das Orientações Curriculares para o Ensino Médio de Geografia. No subitem 3.2 Os eixos temáticos: articulação entre os conceitos e conteúdos, encontramos, como proposta de tema a ser trabalhado: “as questões ambientais, sociais e econômicas resultantes dos processos de apropriação dos recursos naturais em diferentes escalas, grandes quadros ambientais do mundo e sua conotação geopolítica” (BRASIL, 2006, p. 58).


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